5- INICIAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO

INICIAÇÃO E DESCONSTRUÇÃO

´´Estas informações não são monopólio do autor, que não se julga ´´iluminado´´ nem tampouco pretende arvorar-se em mentor de uma coletividade´´ (W. W. Da Matta e Silva - Umbanda de Todos Nós)

Ao abrirmos este texto com esta afirmativa onde Matta e Silva se reserva o direito de colocar o seu ´´ego´´ de lado e, seguir em sua simplicidade como um mensageiro do além, refletimos sobre o complexo de superioridade, que na psicologia individual de Alfred Adler é conceituada como, uma opinião exagerada das próprias capacidades e realizações que deriva de uma supercompensação, externada como uma excessiva competição e agressão em função de sentimentos de inferioridade. 

Acreditamos que todo aquele que busca a reforma íntima através do esclarecimento espiritual, sabe que em nosso ciclo probatório o principal desafio tem sido o desconstruir de nossa Torre de Babel erguida pelo nosso ego ferido, em um sentimento básico de insuficiência e insegurança. Assim, chamamos atenção para o fato de que a Iniciação na Umbanda Esotérica tem sido usada pelo ego em seu complexo de inferioridade, como um potente recurso de compensação para as suas frustrações. Então, observamos que de certa forma a Iniciação na Umbanda Esotérica tornou-se na realidade uma corrida pelo poder, o que sempre foi maciçamente criticado por Matta e Silva no cenário de seu tempo ( as coisas pioraram desde então?).

Por conseguinte, é bastante significativo quando Matta e Silva rechaça qualquer possibilidade de ser categorizado como um líder religioso dentro da coletividade umbandista, especialmente a partir do momento em que ele ganha um maior acesso a essa coletividade, trazendo uma nova visão, de fato jamais vista até então da forma como ele fez. 

Felizmente, como residimos  no Rio de Janeiro, juntamente com o administrador e colaboradores do site Umbanda do Brasil, isto nos proporciona um contato próximo com  pessoas que foram médiuns e consulentes da TUO em Itacuruça, e por lá militaram por anos nas giras de Pai Guiné. Juntando seus relatos sobre a figura de Matta e Silva, obtemos descrições homogêneas que o qualificam como uma pessoa de grande conhecimento e esclarecimento espiritual, especialmente no campo da magia. 

Assim, quando resgatamos essas descrições que por vezes enaltecem a figura de Matta e Silva, não deixamos de observar em sua vida aqueles dois lados da moeda.

Isto é, por um lado ele teria em sua época uma grande oportunidade para fazer valer um possível posto formal de líder umbandista e, até quem sabe, explorando nesse momento a pior das hipóteses: declarar-se sucessor de Zélio de Morais, dando continuidade ao trabalho do Caboclo das Sete Encruzilhadas, agora todavia, refundido e revitalizado, ou em outras palavras, se valendo de um ´´upgrade´´ e com isso agregando novas funcionalidades para esta nova versão  da Umbanda, o que de certo poderia ser uma poderosa alavanca de projeção e dominação.

Contudo, com a Graça das Santas Almas que Guardam O Cruzeiro Divino, Matta e Silva não só assumiu a total responsabilidade pelo seu trabalho dentro da Umbanda, não se apoiando ´´nas costas´´ de outrem para depois desqualifica-lo, como trilhou até os seus últimos dias, o lado da moeda que diz respeito a ´´morte do ego´´, nos ensinando que dentre às suas múltiplas faces, iniciação também significa: Desconstrução, desarticulação, descontinuidade e desmantelamento do "eu", que comercializa o Espiritual no campo da barganha em seus jogos de poder, pelo poder.

E ao contrário dos grandes feitos, acessíveis à nossa visão, as construções, as articulações e as estruturas que são consubstanciadas e dinamizadas neste "eu" em seu materialismo espiritual, são por demais sutis e silenciosas, tendo ainda o agravante de contarem com um consistente apoio de muitas pessoas que orbitam em torno deste ilusório "eu" , o qual por sua vez, passa a refletir o "eu" de muitos em suas expectativas distorcidas, surgindo assim, o "nós", como uma faixa que se auto-alimenta e se autorregula nas ilusões, que se tornam tão reais quanto se deseje.

Neste processo dialético é estabelecido um ciclo de retroalimentacão entre o ''eu" e o "nós" , onde ambos fundem-se numa massa amorfa e autorreagente, que assim se distingue, pela perda das individualidades, pela perda do referencial proporcionado pelo contato consigo mesmo, de modo que o sujeito não mais olha para dentro de si como um consciência singular, única e indivisível em sua individualidade no sentido do seu caminho espiritual, que somente ele poderá percorrer, por sí mesmo. O "conhece-te a ti mesmo" passa a ser uma piada de mal gosto.

O indivíduo não se concebe mais como tal, e sim, como uma extensão de um outro que jamais poderá dizer quem ele é.

Para encontrar-se, faz-se necessário perder-se, tornar-se uma passagem completamente vazia para o Astral, e isso, requer que esse "eu" desapareça. Só assim ele será um médium autêntico e único, não havendo à necessidade de imitar ninguém.

Santa Paz

Tarso Bastos