43- Linhas de Questionamento na Raiz

 

                       Linhas de Questionamento na Raiz de Guiné

 

Rio de Janeiro, 18 de março de 2017

 

Uma certa “ordem social” que enfeixa entendimentos distorcidos sobre a Raiz de guiné, foi firmemente estabelecida a ponto de contarmos com verdades “petrificadas”, nas quais muitos se agarraram, se acomodaram e engessaram o pensamento em “pacotes iniciáticos” prontos, com sua arte final voltada para um certo status pessoal. Pacotes esses que dispensam a fundamental busca ativa do indivíduo por via da dor e do sacrifício do dito status do ego, os quais foram propagados em grande parte, no passado, por uma mente fértil e não situada no que fora de fato e de direito confiado a ela pelo Astral Superior.

Todavia, neste caso, não se pode responsabilizar por completo a dita mente "sucessora da Raiz", por seu lado, incipiente nas coisas da Lei Maior, pois a via de mão-dupla de qualquer organização de grande porte onde o objetivo é o poder é feita inexoravelmente por intermédio de relações de poder, onde o vassalo pode ocupar temporariamente o lugar de subserviência para atingir o topo da pirâmide. Pois nesse tipo de sub-plano, acredite, nada é feito de graça... Enfim, muitos colaboraram nessa relação dialética nefasta para embaralhar e confundir ainda mais o legado de Matta e Silva.

Por conseguinte, no que diz respeito aos entendimentos das humanas criaturas que se voltaram de um modo ou de outro para a Raiz de Guiné, esta, segue num mar de controvérsias, muito particularmente pela diversidade de entendimentos que aleatória e arbitrariamente foram e ainda são atribuídos a ela.

É preciso que se entenda que entre o que Matta e Silva postulou e consubstanciou na sua vivência dentro da Umbanda e o que insurgiu, posteriormente ao seu desencarne, como uma nova narrativa que se autodenominou “sucessora da Raiz de Guiné”, existe uma profunda solução de continuidade.

E o que foi propagado a partir DESSA RUPTURA e desconexão com a linha-mestra doutrinária estabelecida por Matta e Silva, fundamentalmente a partir de sua prática, norteada pelos vetores relígio-científicos originais da Proto-Síntese da Lei de Umbanda, foram em grande parte: práticas humanas contingentes, isto é, incertas e indeterminadas do ponto de vista dessa Proto-Síntese, as quais passaram com o tempo, a dar sustentação e a formar uma rede de terreiros, centros e cabanas com concepções profundamente deturpadas em relação à Raiz de Guiné preconizada por Matta e Silva.

Porém, como essas concepções possuem no imaginário humano um lugar comum, temos que; se há várias pessoas compartilhando um mesmo entendimento, pode ser que seja o mesmo verdadeiro... Por que não?

Alertamos sempre para que os interessados em conhecer a Raiz de Guiné estudem a fundo as obras de Matta e Silva bem como as obras de sua bibliografia, a fim de situar cada vez mais, suas pesquisas no contexto da dita Proto-Síntese Relígio-Científica da Umbanda, não dispensando jamais também o estudo do contexto histórico-cultural no qual esse ensinamento teve a sua formação.

Contudo, para muitos, isso tudo pode esperar um pouco mais, pois dá trabalho estudar e auscultar o meio e nesse momento, o sujeito possui algo bem a sua frente, pronto e acabado, outras pessoas também concordam com ele, e, assim, vamos em frente...

Acreditamos que uma das melhores formas de se questionar os aspectos e práticas da Raiz de Guiné deturpados pela egolatria, mas que mesmo assim, seguem naturalizados em uma diversidade de terreiros pelo Brasil, seja aquela de sistematicamente problematizar as práticas correntes e naturalizadas da "era pós Matta e Silva" a partir de uma investigação crítica de sua história, conversando com pessoas que conheceram ou conviveram com o velho Matta (ainda tem muita gente por aí..) estando atento aos modelos prontos e acabados, circulantes pelas massas por via do eterno “disse-me-disse”.

Santa Paz

Tarso Bastos