Eis o que um destes pesquisadores nos relata:
Naturalmente, a ciência não é o único caminho que o homem trilhou ou pode trilhar para chegar à verdade e à certeza; nem é a verdade ou a certeza que caracterizam o conhecimento científico. O que distingue e caracteriza as diversas espécies de conhecimento são o modo de conhecer e os instrumentos do conhecer. O mesmo "objeto" de conhecimento pode ser atingido por diversas vias e diferentes modos.
Ora, Matta e Silva dizia que a Umbanda se constitui e se revela, a partir de uma estrutura Relígio-Científica, por ele designada como uma Proto-Síntese, sustentada pelas Sete Vibrações Originais ou Orixás e a Ancestralidade de Espíritos que ocupam essas faixas vibratórias, para com isso formar as chamadas Sete Linhas que irão compor à Corrente Astral de Umbanda.
Ora, "proto", que vem do grego "protos", significa: anterior, que vem primeiro ou, ancestral. Temos, por conseguinte, que na definição dada por Matta e Silva a Umbanda seria: a Síntese Primeva, Original ou Ancestral dos fundamentos Relígio-Científicos, que por seu turno, foram outrora chamados em seu conjunto pelos antigos magos de: Teurgia. Eis que a Teurgia foi novamente resgatada e rediviva por Matta e Silva com a denominação de Umbanda Esotérica, enquanto uma imensa unidade funcional do Astral Superior, operante no mundo físico e astral do Brasil com ordens e direitos de trabalho, sob a égide do Senhor Jesus Cristo, que dessa forma, situa o lado mais interno ou hermético da Umbanda. Esta, foi, portanto apresentada pelo velho Matta como a primeira escola iniciática de Umbanda que se tem notícia no plano físico do Brasil.
Logo, como bem observado pelo pesquisador acima, a Umbanda vai muito além da ciência acadêmica, não estando circunscrita à ela. Entretanto, se utiliza da ciência, como um braço indispensável para uma fornecer certa clareza, nitidez e fundamentação iniciática especialmente através de certos dados colhidos nos campos antropológico e histórico de certos povos da antiguidade, que constituem às bases ancestrais étnicas da Umbanda em sua expressão no universo físico do Brasil.
A ciência, como sabemos, surgiu a partir da busca do homem por explicações válidas, por respostas e justificativas que pudessem de fato, fornecer um positivo conhecimento dos fenômenos nas suas causas para compreender melhor e predizer os seus efeitos. Com o incremento de uma metodologia para programar e sistematizar uma reunião fragmentária de conhecimentos, a priori manobrados por certezas ingênuas com um realismo pré-crítico, a ciência passou a concatenar estes conhecimentos "soltos" em um corpo de enunciados inter-relacionados e subordinados pela lógica. A partir daí, pode-se esclarecer as relações entre os componentes de um determinado fenômeno, o que possibilitou enunciar leis gerais e constantes que regem estas relações.
Por conseguinte, a ciência conseguiu estabelecer leis válidas para os casos da mesma espécie que ocorrem nas mesmas condições. O conhecimento científico, portanto passou a fornecer uma plataforma de pesquisa, com um modus operandi sistemático menos sujeito ao erro nas deduções e prognósticos em relação ao conhecimento vulgar assistemático, ametódico, não questionador e que assim, embora atinja os fatos, não estuda sistematicamente sua constituição íntima e suas causas.
A ciência no campo social em sua progressão passou a se tornar também uma ferramenta consistente para evidenciar objetivamente a existência de determinadas leis físicas que regem certos fenômenos, padrões, fatos e fenômenos presentes na esfera biopsicossocial do universo humano. Logo, neste caso, as ciências sociais também compilaram, categorizaram, conceituaram e organizaram dados históricos, sociológicos, culturais, psicológicos e outros mais, formando com isso, um corpo sistêmico coerente e integrado de informações nestes respectivos campos, sendo estes dados devidamente contextualizados histórico-socialmente na linha do tempo. Contudo, para a realidade dos umbandistas, parece de fato objetivamente existir uma questão crucial nessa questão toda formulada pela ciência acadêmica em sua sistemática, especialmente nas ciências sociais, conforme fora levantado por Ivan H. Costa (Itaoman): uma profunda lacuna espiritual criada no movimento umbandista pela ausência da chamada; obra da transcodificação.
Ou seja, como já discutido em outros textos, as ciências sociais fornecem uma perspectiva onde se pode naturalmente conciliar uma tremenda diversidade de dados culturais, sociais e linguísticos do negro, do índio e do branco europeu, especialmente, na medida em que, o próprio movimento umbandista, segundo Ivan Costa, passou a plasmar uma expressão mais nacionalista na proporção em que se afastou de suas origens étnicas. Observa Ivan que neste processo evolutivo, obras literárias abalizadas nos campos antropológico e sociológico foram processadas sem um amparo de caráter religioso, seguindo unilateralmente norteadas pelos paradigmas científicos, as quais, com isso, foram estruturadas em suas bases, unicamente pela leitura científica, criando e estabelecendo em consequência uma perspectiva denominada: "de fora para dentro".
- Por conseguinte, esta produção literária não conseguiu a devida interação com a "massa" dos praticantes no movimento umbandista; não logrou atingi-los de tal modo, que fosse possível criar um espírito crítico que pudesse assim, fomentar o estudo dessas obras para de fato compreende-las e traduzi-las para a linguagem dos terreiros.
A Umbanda segundo Matta e Silva, já está há muito tempo codificada, mas o movimento umbandista, ainda não foi homogeneamente transcodificado pela Umbanda
Eis que os valiosos dispositivos da ciência, mormente das ciências sociais, não puderam ser devidamente aplicados no movimento umbandista com plenitude a partir de uma iniciação positiva e especializada na Umbanda, para assim poder conjugar, segundo Ivan Costa, o sociológico variável com o espiritual imutável, realizando a dita obra da transcodificação, a qual, arriscamos dizer; poderá ser a proto-forma para o ressurgimento pleno da Umbanda na sua real expressão homogênea dentro do movimento umbandista, conferindo a ele, a sua genuína forma final.
Por conseguinte, no que tange à iniciação na Lei de Umbanda: esta irá gradativamente promover a dita obra da transcodificação, a partir do aprofundamento da ligação entre o conhecimento científico com o conhecimento Religioso Ancestral, até que se chegue a UNIDADE ou CONHECIMENTO-UNO INDIFERENCIADO, contido na Umbanda a partir de sua Proto-Síntese Relígio-Científica Ancestral. Ou seja, esta composição formada entre a ciência terrena acadêmica e a iniciação na Lei de Umbanda, irá constituir uma perspectiva iniciática ou Relígio-Científica, cujo eixo é de fato e de direito estabelecido pela mediunidade, pois sem uma positiva interface do iniciado com o Astral Superior, facultada pelo selo mediúnico ativo e dinamizado pelo dito plano astral, o médium poderá ficar limitado, preso e circunscrito ao plano dos epifenômenos, ficando assim a mercê de ser ludibriado pelo astral inferior, que na Umbanda, mormente, remete aos planos e subplanos do atavismo com seu corpo de crenças e práticas ritualísticas degeneradas.
Epifenômenos: linha tênue entre a irradiação intuitiva positiva e a ficção anímica viciosa
Fala-se aqui em epifenômenos (do grego epihainomenon) no contexto da iniciação, como um item de capital relevância, por vezes, determinante para que não seja cruzada a linha tênue que delimita:a autêntica assistência espiritual da ficção anímica - com seus devaneios intoxicantes e criadores de dispositivos disfuncionais e desadaptativos na coletividade umbandista. Ora, no epifenômeno verifica-se que; um certo dado ou ocorrência é adicionado a um fenômeno, sem, contudo, exercer qualquer influência causal sobre este fenômeno. Ou seja, é como se este dado nessa questão, fosse um elemento acessório, um simples reflexo que não desencadeia ou desperta qualquer tipo de influência sobre o dito fenômeno. Em outras palavras, um epifenômeno é um produto acidental ou acessório de um fenômeno essencial, incapaz de promover qualquer tipo de mudança ou influenciação sobre o dito fenômeno essencial.
Para ilustrar melhor essa questão dos epifenômenos, Ronice Müller cita Descartes que afirmou que; não há graus de humanidade, de modo que; ou somos humanos ou não somos. Ou seja, não há variação essencial entre os humanos, a não ser superficialmente nos seus aspectos epifenomenais. Ronice descreve por exemplo, a questão da faculdade humana da linguagem em relação à interação do indivíduo por meio dela com o seu ambiente social. A linguagem dele - possibilitada pelo seu aparato biológico e cognitivo - poderá deflagrar uma infinidade de mudanças no seu ambiente social e cultural, contudo, essas mudanças que ocorrem no campo social não interferem intrinsecamente, de modo algum, na faculdade de linguagem disponibilizada para ele; ou seja, ela continua com o mesmo modo de funcionamento. Concluindo, segundo Ronice, no que tange à linguagem, os epifenômenos seriam, portanto, fenômenos adicionais consequentes da linguagem que se sobrepõem a outros, todavia, sem alterar ou estabelecer qualquer tipo de influência sobre a faculdade ou a capacidade da fala do indivíduo, sendo sendo estes fatores ditos como epifenomenais: sociais, econômicos, políticos, culturais, os quais, por mais que variem quantitativa e qualitativamente ao infinito não mudam a faculdade humana da fala.
Como transferimos essa discussão dos epifenômenos para a atual situação da Umbanda Esotérica na Era Pós Matta e Silva?
Ora, Matta e Silva descortinou uma série de revelações, de conhecimentos, de concepções e de práticas ritualísticas, os quais formam um corpo doutrinário, estabelecido por postulados estruturantes fundamentais no lado interno da Umbanda, que dessa maneira, estão alicerçados pela dita Proto-Síntese Relígio-Científica da Umbanda cuja centralidade está nos Sagrados Mistérios do Cruzeiro Divino, sob a égide do Senhor Jesus Cristo, dito pelo velho Matta como o Mestre de Justiça do Planeta Terra. Esta Proto-Síntese, pavimenta, portanto um caminho determinado pelo Astral Superior, chamado de iniciação na Lei de Umbanda, com suas regras e disciplinas inerentes. Como parte desses ensinamentos foram publicados pelo velho Matta através de suas nove obras, esses ensinamentos foram naturalmente sendo acriticamente, assistematicamente e ametodicamente interpretados e reinterpretados ao longo de décadas por milhões de pessoas, passando desse jeito a configurar uma série de realidades pré-críticas e fragmentadas acerca dos ensinamentos contidos na obra literária do velho Matta. O fato é que deturpações, distorções e malversações do que fora professado por Matta e Silva ocorreram e ainda ocorrem, ao ponto de se considerar sua obra obsoleta, desacreditada, ultrapassada, elitista e etnocentrista, necessitando com isso de ser retificada e ratificada (?)...já falamos um pouco sobre a falácia e os profundos devaneios que externaram esse projeto utópico do ponto de vista espiritual.
- Essas concepções distorcidas, malversadas e deturpadas que surgiram e foram desdobradas a partir do que foi originalmente e essencialmente professado por Matta e Silva, ao contrário do que ele revelou e preconizou, não desencadeiam positivamente a força causal para estabelecer uma verdadeira iniciação na Lei de Umbanda, pois são epifenômenos, logo, não influenciam a dinamização da "corôa" espiritual do ser enquanto consciência cognoscente, para conscientemente romper definitivamente os ciclos cármicos que o aprisiona nesta via evolutiva dependente de matéria.
Em suma, são subprodutos da ignorância produzidos e articulados por evolutivos com psiquismos desconectados de uma real iniciação na Lei de Umbanda, a qual, não vêm pelo poder e sim, pela contínua desconstrução do ego monolítico engessado no atavismo e nas paixões humanas ou em outros termos: vem pela renúncia e via de regra pelo sofrimento que o processo de conscientização muitas vezes acarreta. Essas concepções epifenomenicas sobre os ensinamentos de Matta e Silva, passaram então a enfocar uma perspectiva retroativa de reintegrar a Umbanda aos planos atávicos de certas concepções e práticas dos cultos africanos, ameríndios e europeus e, neste processo, no que veio a posteriori como consequência da aculturação desses povos, os quais, por terem caído em total anacronismo - do ponto de vista iniciático na Lei de Umbanda-, não são mais funcionais e adaptativos para sustentar à complexidade da iniciação na Umbanda, coligada com o Astral Superior, a fim de desencadear a dita libertação cármica da alma dos ciclos da reencarnação.
Em outras palavras, é como se a Umbanda Esotérica tivesse eclodido a partir do espírito crítico tenaz de Matta e Silva, para no seu primeiro momento: fazer uma contrapartida amplamente crítica por meio da pesquisa e de um estudo dirigido, frente a essas concepções e práticas atávicas. E, num segundo e atual momento, a Umbanda Esotérica, que, com todo o imensurável esforço do velho Matta foi revelada, passasse a simplesmente se reconciliar com o que outrora fora alvo objetivo de ampla e profunda retificação direcionada à coletividade umbandista...pergunta-se:qual é o sentido esotérico disso tudo?
Portando, essas concepções evoluíram de tal forma que tornaram-se incoordenadas, extemporâneas e direcionadas preponderantemente pela cultura de massa imponderada, de modo que, encontram-se já superadas há séculos- vide ensinamentos de Pai Guiné D'Angola. Assim sendo, é realmente interessante que ainda nos dias atuais, continuem sendo patrocinadas pelo modus operandi da ficção anímica, todo um quadro de suposições, que de fato, não possuem capacidade ou facticidade causal para estabelecer e coordenar um real e positivo processo de iniciação na Lei de Umbanda, sob os auspícios da Corrente Astral de Umbanda com suas Santas Almas Guardiães do Cruzeiro Divino conferindo a devida cobertura para este mister.
Matta e Silva nos mostra que o tripé iniciação-mediunidade-ciência é acima de tudo, guiado pelos Espíritos de Caboclos, Pretos-velhos e Crianças, que assim, gradativamente podem proporcionar uma positiva penetração e revelação de um sentido cada vez mais amplo, seguro e verdadeiro das reais causas de certos fenômenos, práticas, rituais, crenças, de aspectos místicos e de concepções religiosas levantadas e pesquisadas pelas ciências humanas, capacitando com isso o iniciado a percorrer um real caminho iniciático que deflagre o surgimento da força motriz causal em seu processo de conscientização, que irá libertá-lo dessa via de evolução dependente de matéria-energia. Eis a visão "de dentro para fora" descrita no estudo das tradições dos povos antigos proporcionada pela iniciação na Lei de Umbanda, conforme mencionado por Ivan H. Costa (Itaoman):
- a qual possibilitará para o iniciado um plano de consciência que conjugará harmonicamente o sociológico variável com o espiritual imutável, consumando a obra da transcodificação - "e conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
Vias Por Onde Escoam A Tradição Ancestral da Corrente Astral de Umbanda
Logo, observamos na Umbanda Esotérica certas vias por onde escoam a Tradição Ancestral resgatada por nossos Caboclos, Pretos-velhos e Crianças:
a)- pela parte religiosa, expressa em sua rito-liturgia centralizada nos sagrados Mistérios do Cruzeiro Divino;
b)- pela mística ancestral das tradições ameríndia, africana, nórdica e ário-egípcia, com suas raízes esotéricas resgatadas pelos Caboclos, Pretos-velhos e Crianças, com toda sua simbologia e fenomenologia sagradas coordenadas pela Lei de Umbanda;
c)- pelas ferramentas que a Magia pode fornecer em composição com a ciência dos Tatwas, com a Lei do Verbo, com a Lei de Pemba, com a Astrologia e outros campos do saber esotérico, que possibilitam a positiva mobilização do chamado fluído-matriz magnético;
d)- em sequência ao item anterior, pela sonometria sagrada sobredeterminada pela Proto-Síntese da Lei de Umbanda, observada pela sabedoria no uso dos Mantras sagrados e pelos pontos cantados de raiz usados nos terreiros, dados pelas Entidades, onde ensinamentos complexos podem ser transcodificados em imagens singelas, no intuito de assim ajudar os filhos de fé a apreenderem e internalizarem positivamente o sentido essencial das coisas da vida espiritual imortal;
e)- pela terapêutica natural, por meio dos diversos recursos transcendentais ensinados pelas Entidades Astrais, sobre a manipulação da essência da natura-naturandis;
F) enfim, por tantos outros recursos que se fazem presentes para todos nós, através dos ensinamentos ancestrais das Entidades que Militam na Corrente Astral de Umbanda, que neste ciclo, objetivam acelerar o processo de evolução espiritual da humanidade...
Vemos que a denominação Relígio-Científica é sobremaneira ampla, profunda e ao mesmo tempo simples, em vários aspectos, trazendo uma diversidade de opções para os filhos de fé, desconstruirem suas barreiras monolíticas atávicas que impedem o seu autoconhecimento e libertação do sofrimento, sanando dessa maneira, suas mazelas físicas e morais, para assim, entrarem em equilíbrio com o Cosmo Espiritual Virginal.
Conforme nos diz Jiddu Krishnamurti:
- "Ignorante não é aquele que não tem instrução, mas sim o que não possui autoconhecimento. Do mesmo modo, o letrado torna-se estúpido ao buscar a compreensão apenas na autoridade e no saber dos livros.A compreensão surge unicamente através do autoconhecimento: o conhecimento da totalidade do nosso processo psicológico."
Referências:
HORÁCIO, Ivan. Pemba: A Grafia Sagrada dos Orixás, por Mestre Itaoman. - Brasília, Thessaurus, 1990.
QUADROS, Ronice; FINGUER, Ingrid. Teorias de Aquisição de Linguagem.2.ed.rev.- Florianópolis: Ed. da UFSC, 2003.
Santa Paz
Tarso Bastos