As Fusões da Raiz Afro e da Raiz Ameríndia
O Culto Bantu dos africanos aqui no Brasil começou a receber as influências dos outros cultos, principalmente do nagô.
Do lado ameríndio o primitivo Culto de Muyrakitan foi sendo esquecido, se apagando dentro dos ritos sagrados dos tupy-nambás, dos tupy- guaranys e outras tribos, após a era cabralina, deixando como herança, mas ainda conservados seus aspectos puros, o Culto da Yurema.
Por volta do ano de 1547, foi constatada uma mistura entre esses ritos africanos (já bastante influenciados pelos vários cultos) e o cerimonial que os nossos índios praticavam. A essa fusão, denominou-se Adjunto de Jurema, que por sua vez, era uma degeneração do verdadeiro Culto da Yurema.
Essas práticas religiosas, mágicas, dos índios, chamadas “Adjunto de Jurema”, que envolviam ervas, rezas, exorcismos ou invocações, com oferendas, cânticos, etc., foram, posteriormente, denominadas pelos brancos como Pajelança.
Dessa fusão entre o culto dos bantus e o Adjunto da Jurema surgiu, depois de alguns anos, outra espécie de rito, com práticas mistas que foi chamado de Candomblé de Caboclo, onde a par com a evocação e a crença nos Orixás, predominava mais a influência ameríndia, com seus Caboclos, seus Encantados, etc.
Todavia, essa fusão, degenerou mais ainda, prevalecendo certas práticas como pura feitiçaria. Assim surgiu a prática denominada de Catimbó.
O termo catimbó é uma corruptela de timbó ou caa-timbó do idioma Nheengatu, a língua sagrada, dos tupy-nambá ou tupy-guarany, e significa defumação.
Nas práticas do Candomblé de Caboclo, dado a influência ameríndia, se usavam muito os timbós ou catimbós, com o uso exagerado de muita fumaça de cachimbo. Então, por uma associação de idéias, de correlação, passaram a chamar de Catimbó.
As sessões de Catimbó são chamadas de mesa. Fazer mesa é abrir uma sessão. O trabalho para o bem, tratamento médico, remédios, conselhos, orientações benéficas, amuletos, é denominado fumaça às direitas. Trabalho para o mal, vinganças, dificultar negócios, impedir casamentos, adoecer alguém, conquistar mulher casada, despertar paixões para relações não-conjugais, é fumaça às esquerdas.
Nesse Catimbó, que ainda hoje em dia existe em muitos Estados, as sessões são consagradas à prática da bruxaria, dos feitiços, envolvendo raízes, ervas, nozes, frutas, defumações fortes, bebidas alcoólicas aliadas à matança de animais para os chamados despachos. Nas sessões bebe-se, fuma-se, canta-se e dança-se muito, com evocações extensivas a tudo quanto seja Espíritos de feiticeiros indígenas e mandingueiros africanos do passado.
Toda essa mesclagem de práticas e concepções vinha sendo executada através de variados e estranhos rituais. Acrescente-se isso a influencia do catolicismo mediante alguns de seus santos, que foram identificados (sincretismo) com certos Orixás.
Toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo-espiritismo, magia-negra, etc. e em certos Estados do Brasil, de canjerê, pajelança, batuque ou toque de xangô, babassuê, tambor de mina etc., recebeu ainda, nos últimos 50 anos, mais uma acentuada influência – a do Espiritismo, também chamado de Kardecismo.
Então tínhamos todos esses aspectos, envolvendo práticas, as mais confusas, materialmente grosseiras, de ritualísticas barulhentas (pelos tambores, triângulos, cabaças e outros instrumentos exóticos), tudo isso em pleno Século XX, norteando, por afinidade, uma imensa coletividade, com seus milhares de Centros, Terreiros, Tendas, Cabanas, etc.
Abaixo, algumas variações do citado sincretismo, em alguns estados do nosso Brasil:
Pesquisa: Graça Costa (Yacyamara) - TUCAT
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