Casos e coisas de Umbanda. Caso G.
Extraído do livro Umbanda e o poder da Mediunidade de W.W. da Matta e Silva.
Este caso é muito atual, serve de exemplo para muitos chefes de terreiro, a moral a conduta etc..
O astral superior não convive e não apoia erros de médium.
Para relatarmos esse caso e o que o seguirá, temos que dizer algo sobre um assunto delicado, já abordado em linhas simples em nossas obras e por outros escritores, de certo modo...
Isso se prende diretamente à função mediúnica, à responsabilidade e consequentes direitos de ação sobre uma criatura médium, por um guia ou protetor, especialmente da Corrente de Umbanda, que é o nosso caso.
Já repetimos exaustivamente, em todos os nossos livros, que a mediunidade é uma condição que se traz do berço, ou melhor, vem antes mesmo da encarnação.
Para isso, também já debatemos mais do que o suficiente que a manifestação é coisa espontânea, vem na hora certa, não é preciso ser forçada ou precipitada.
E como desenvolvimento propriamente dito, também já esclarecemos que só se desenvolve em alguém aquilo que já existe; ninguém desperta um dom, se já não trouxe do berço, conforme já frisamos.
Se o leitor estiver familiarizado com nossas obras, deve estar nesse instante, lembrando-se de tudo isso...
Ora, quando um ser vai encarnar, e por injunção qualquer de seu carma, seja, probatório, evolutivo ou missionário, vai levar como prova, complemento ou missão, a função mediúnica de forma clara e positiva, traz, como nós chamamos na Umbanda “ordens e direitos de trabalho” e, assim sendo, sabemos que a criatura médium assumiu seríssimo compromisso perante o Tribunal do Astral competente...
Esse compromisso e essa responsabilidade são de tal monta que não é a qualquer espirito ou ser desencarnado que se dá tal ordenação...
O Tribunal competente procede à escolha ou aceita a solicitação de um espirito na qualidade de protetor ou guia, se realmente ele for capaz de lidar com todas as injunções que requer a função mediúnica... Especialmente na Umbanda.
E, na maioria dos casos, o próprio ser que vai encarnar e que vai servir de veiculo mediúnico, participa ativamente nessa escolha, nessa preferencia, dentro da lei de afinidade, e pelas possíveis ligações cármicas. Acresce ainda dizer que, se a criatura médium for um iniciado, um magista, sua cobertura mediúnica é feita por guias ou mentores de sua corrente, de sua escola ou de seu Grupamento Iniciático.
E de acordo com a força de ação mediúnica de que será investido o futuro médium, o Tribunal concede uma espécie de “carta branca” ao protetor, guia ou mentor responsável desse citado médium...
Dentro dessas condições, já tivemos inúmeras oportunidades de ver desenrolarem-se ações disciplinares na Corrente Astral de Umbanda, que iam desde as mais simples disciplinas, às mais duras provas físicas, financeiras, morais, e até o desencarne de aparelhos já nos foi dado observar.
Isso se justifica, sabendo-se dos males o menor... Pois sabemos que a influencia de um médium pode estender até sobre a coletividade, quer na espiritual, moral, social, emocional, psíquica, domestica, financeira etc...
Bem, suponhamos que um médium esteja dentro dessa situação e que, a certa altura, centenas de pessoas girem em torno de suas atividades mediúnicas (como é o caso de grandes Terreiros e Tendas), ou que se pautem, de certo modo, pelas suas ações nesse setor, e ele, médium, entorte seus caminhos e consequentemente passe a influenciá-los de modo negativo de vez que todos estão girando na sua corrente astral, sujeitos às influenciações morais, espiriticas, magisticas que ele centraliza e põe em movimentação.
Então, se o médium, nessa altura, errou, criou ou arranjou tais situações negativas, confusas e consequentemente os que dependem do seu terreiro possam se prejudicar, sendo também envolvidas de maneira desastrosa nas ditas consequências ou nas reações danosas que criou, é claro que, se a balança da lei pesar a vida desse médium e os males que está causando e os que possa causar, não pode ser surpresa para o leitor de dissermos que pode acontecer até o desencarne, como medida saneadora, extrema, necessária.
E é dentro desse aspecto que vamos citar o desencarne procedido por um caboclo, que podemos situar na Vibração de Xangô, sobre um seu aparelho feminino, e que assistimos há mais ou menos vinte e cinco anos... ( aproximado 1962) não citando diretamente local e pessoas porque esse desencarne deu-se por desvios morais e existem, ainda vivos, parentes do médium em foco.
Um dia fomos convidado por um amigo a assistir a umas sessões num Terreiro de xangô, cujo médium mulher--- afirmou-nos--- trabalhava com um caboclo que era de fato.
Para lá nos levou, e realmente tivemos a satisfação de contatar a veracidade da afirmação desse amigo. Analisamos o ambiente do terreiro, o médium, sua entidade protetora, dentro da acuidade e certa sensibilidade que sempre nos alerta na hora precisa.
Causaram-nos logo estranha impressão a beleza e a mocidade do médium-chefe, uma senhora casada. Nesse tempo ela devia ter seus vinte e sete para vinte e oito anos.
Observamos, cheio de admiração, como trabalhava bem esse médium com o caboclo. A verdade é que empolgava todo mundo e influenciava decisivamente a vida, as ações e a própria consciência ou o sistema de vida psíquica daquelas centenas de pessoas ou de filhos de fé que trafegavam pelo seu terreiro, incluindo nisso, naturalmente, a parte mais afetada, que eram seus médiuns e seus íntimos...
Na terceira sessão fomos alertado intuitivamente, ou por força dessa nossa sensibilidade ou dom de penetração, de algo ali andava “torto”... Havia qualquer coisa no ambiente astral humano do terreiro...
Pusemo-nos a observar diretamente o tal médium chefe e a fazer uma serie de inocentes indagações por um canto e por outro.
Mas o que começamos logo a notar foi a especial atenção, ou melhor, a maneira toda particular com que o ogan seguia os movimentos do médium chefe. Aquilo não era mais seguir, era fiscalizar ostensivamente...
Sentimos que havia algo dele para ela. De par com isso, constatamos também ser esposo dessa senhora, criatura de índole boa, afável, ingênua, e, além disso, de absoluta fé na mediunidade ou nos protetores da esposa.
Na quarta sessão a que assistimos o caboclo desse médium andou cantando uns pontos um tanto expressivos, porque as imagens que formava neles falavam de erros, castigos e outras coisas mais.
Notamos que o tal ogan e outros médiuns do sexo feminino ficavam assim como que apavorados, como se temessem algo e esperassem um acontecimento repentino.
De repente--- quase no fim da sessão--- o caboclo chamou o tal ogan, alguns médiuns e o esposo do médium chefe num canto e ali estiveram conversando longo tempo. Notamos que o esposo do médium chefe chorava e que o caboclo falava bastante irritado.
Terminada a sessão, ficamos por ali, conversando com um e outro. Acabamos sabendo de toda a historia pela voz de um cambono, completamente indignado, que desabafou para nós: o caboclo X tinha suspendido por seis meses os trabalhos, havia dispensado definitivamente a cooperação do tal ogan e feito recomendações a seu aparelho, para que esquecesse completamente o seu caso amoroso com o ogan, visto que o próprio marido se comprometera a tudo perdoar...
Enfim, ela já vinha errando há muito tempo, não obstante, as severas advertências de seu protetor, e sem levar na devida conta a bondade e a compreensão de seu esposo, que gostava dela demais...
A coisa estava nesse pé, quando uns oito meses depois, esse mesmo amigo que nos levara ao terreiro voltou a convidar-nos, pois tinha sido reaberto. Fomos. Qual não foi a surpresa nossa quando vimos o mesmo ogan ali postado, em suas funções.
Fomos ao informante cambono e lhe perguntamos, maciamente, o que é que tinha havido, pois estamos vendo o pivô do caso.
Respondeu-nos que a dona “Fulana”--- o médium chefe --- havia desfeito “aquela onda braba” e até convencera o marido de que “nunca houvera nada entre ela e o tal ogan, pois o que caboclo havia dito não era caboclo, e sim de quiumba” ...
Todavia, o cambono acrescentou, no final dessa informação, saber que a dona “Fulana” continuava de amores com o dito ogan e o pior; que não tinha levado em consideração a ordem de seu protetor a esse respeito.
E ainda disse mais que estava preocupadíssimo, porque, durante todos esses anos que acompanhava a atividade daquele caboclo X, jamais o vira “bambear”(como bambear quis dizer: fraquejar, acobertar erros ou repetição de erros) ou encampar qualquer sem-vergonhice...
Abriram a sessão. Cantaram pontos. Quase todo mundo contente pela reabertura; o médium chefe irradiava alegria e parecia que tudo corria às mil maravilhas... Quando caboclo X chegou...
Caboclo X, logo que chegou saravou uns e outros, pediu que mandassem chamar o compadre de seu aparelho (essa tinha um filho) e de seu esposo, que morava perto, pois desejava falar um assunto com ele. Devemos frisar que o compadre chamado era medico.
Realmente o medico veio e conversou com o caboclo; depois ficou por ali conversando e apreciando...
Lá pelas vinte e três horas, caboclo fez uma roda com os médiuns, ficou no centro e tirou um ponto impressionante que, de principio, não foi logo compreendido, só o sendo quando começou a se despedir dos médiuns, dizendo que ia subir, ia “oló” e não mais voltaria aquele “reino”.
Porem, o que mais nos impressionou nisso tudo foi quando entendemos claramente que caboclo confortava o marido de seu aparelho, que chorava silenciosamente...
De repente, dirigiu-se para o lado do ogan que, parado, olhava tudo, e com um ponteiro (punhal que apanhara debaixo do conga) furou o tambor...
Ai, sim, vimos que ia se passar algo de perigoso e para o que chamamos a atenção daquele nosso amigo...
Retornando o caboclo para o centro da roda dos médiuns, sempre firme no ponto de despedida, fazia gestos de cruzamento com as mãos para o conga ao mesmo tempo em que ia tombando a mulher suavemente para o chão, primeiro ajoelhando, depois sentando e logo deitando-a.
Cessou de cantar. O médium também. Houve um silencio mortal, porque, de fato, a morte havia chegado para seu aparelho...
Descrever o assombro, a consternação, no corre-corre, o desespero dos presentes, seria demais na descrição desse caso...
Apenas diremos que o tal compadre medico chamado correu para socorrer a comadre médium. Nada pode fazer e acabou dando como “causa mortis”, “colapso cardíaco”...
Caboclo X havia disciplinado seu aparelho de forma decisiva. Varias foram as tentativas feitas com o objetivo de consertar seu aparelho, e ele não tinha levado em conta suas advertências...
Caboclo chegou a dar-lhe até ultima chance, para fugir de seu erro ou da repetição dele. Fechou o terreiro deu tempo ao tempo e nada...
Vendo que não havia solução e que a função mediúnica estava comprometida, servindo de capa e influindo de modo negativo no corpo mediúnico, que até podia tomar aquilo como exemplo, sem falar nos frequentadores, possivelmente usou dos direitos que sua “carta branca” facultava... Porque viu claramente que... “dos males o menor”...
É pena que os CABOCLOS de hoje não façam mais essas coisa com seus aparelhos nessa situação, pois ultimamente não tenho noticias de semelhante execução da lei. Com isso queremos dizer que... quiumba não tem lei para executar. Entenderam?...