Aspectos Históricos da Umbanda

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/1_capa_aspectos_historicos_1.jpg

 

Introdução

A Umbanda é uma poderosa Corrente Espiritual que tem dentro de si os aspectos: religioso, filosófico, cientifico, simbólico, mitológico, ritualístico, litúrgico, terapêutico e de magia, para a defesa das forças antagônicas. Essa poderosa Corrente Espiritual é mantida pelo Astral, através dos espíritos de Caboclos, Pretos Velhos e Crianças.

 

A Umbanda é uma religião genuinamente brasileira, formada pelo congraçamento da três raças matrizes deste povo, o índio, o branco e o negro.

 

Raízes históricas

Para nos aprofundar nos aspectos históricos da Umbanda, vamos viajar pelo passado das raízes que deram origem a essa Umbanda de Todos Nós no Solo Brasileiro.

 

A Raiz Africana

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/RAiz_africana.jpg

Logo após o descobrimento do Brasil, tivemos em nosso país, o triste e vergonhoso episódio da escravidão e os negros que aqui chegaram, como escravos, trouxeram um sistema religioso que compreendia vários rituais, cada qual de suas nações de origem.

 

Mas quais eram as várias raças ou tribos africanas introduzidas no mercado de escravos do Brasil?

 

O estudo desta e outras tantas questões relacionadas ao negro no Brasil, esbarraram em muitas dificuldades e foi tão grande a confusão nessas pesquisas, que os nossos mais eruditos historiadores e sociólogos tropeçaram em fatos elementares do estudo destas tribos importadas, seu valor numérico, antropológico, sociológico etc.

 

Isto ocorreu devido a vários fatores, entre eles, os principais motivos foram:

▪   Inexistência de documentos originais de registros aduaneiros;

▪   Destruição de documentos históricos, por uma geração que se ocupou em apagar de nossa história o vestígio da escravidão, queimando em fogueira documentos, por determinação do Ministério da Fazenda(1);

▪   Vastidão do território nacional, tornando unilaterais esses estudos;

   Nomes vulgares que os negros se davam a eles próprios, de acordo com o lugar de origem, às vezes simples cidades ou vilas.

 

Foi Nina Rodrigues (Os Africanos no Brasil, 1932) quem lançou a primeira luz sobre estas questões, seguida por Arthur Ramos (O Negro Brasileiro, 1940), em largo inquérito sobre as religiões negras. Estas pesquisas identificaram que a maioria da população negra era de procedência sudanesa e em menor número os negros de origem banto.

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/figura_banto.jpg

Estes negros que aqui aportaram como

escravos saíram, principalmente de três grandes áreas, a saber: do Congo, do Golfo da Guiné e do Sudão Ocidental e vieram para os Estados da Bahia, Pernambuco, Rio de Janeiro, Maranhão, Minas Gerais e São Paulo.

 

Dos negros Sudaneses, os mais importantes foram, nessa ordem:

▪      Iorubas ou Nagôs

▪      Gêges (Ewes, Jejes ou Daomeanos)

▪      Minas

▪      Hauçás

▪      Tapas

▪      Bornus

▪      Gruncis ou Galinhas

 

Com esses negros sudaneses entraram dois povos de influência maometana:

▪      Fulas

▪      Malês(2)

Dos negros Bantos ou Bantus, os mais importantes foram:

▪      Angolas

▪      Congos ou Cambindas

▪      Benguelas

▪      os de Moçambique (incluindo os Macuas e Angicos).

 

As demais denominações, que tanta confusão originaram, nada mais são do que províncias ou regiões do vasto território afro-austral, habitat dos povos bantos.

 

Os compradores de escravos, movidos por interesses mercantilistas, procuravam comprar aqueles que não pertenciam à mesma nação, separando as mães dos filhos e dos maridos. Era comum um fazendeiro comprar um lote de escravos minas, juntamente com congos ou angolas. Essa estratégia tinha por objetivo diminuir o risco de uma rebelião ou trama de fugas. Surgiu aí a primeira dificuldade da prática de um culto, em função das várias línguas faladas pelos negros de uma mesma senzala.

 

Roger Bastide (As Religiões Africanas no Brasil), cita que não era possível aos iorubás nem aos daomedanos conservarem sua religião familiar, nem aos bantos continuarem o culto de seus ancestrais.

 

Então a solidariedade deixou de acontecer no plano doméstico para se tornar uma solidariedade étnica.

 

A manutenção, ainda que parcial, dos valores religiosos negros durante o período escravagista ocorreu devido à chegada, nos vários lotes de escravos de adivinhos, médicos-feiticeiros e sacerdotes. Esses mais ligados aos ritos africanos souberam, ao longo do tempo, unir de maneira adequada os negros de várias nações e línguas diferentes, naquilo que tinham em comum, a crença nos Orixás.

 

Um dos motivos da perda significativa dos valores religiosos africanos é que provavelmente raríssimos babalawos vieram para o Brasil como escravos, perdendo-se muito do seu conhecimento iniciático.

 

A procedência do negro escravizado foi majoritariamente iorubana, num ciclo que se iniciou no fim do século XVIII. Chegaram à Bahia em tal número e em relativo pouco espaço de tempo, que puderam conservar e impor aos outros negros escravizados as suas tradições e a sua linguagem – o Nagô, que passou a ser a língua franca da única instituição religiosa negra no Brasil.

 

Estes vários rituais que os negros trouxeram para o Brasil, de suas nações de origem, chamados de culto de nações ou culto africano, com o passar do tempo foram sofrendo adaptações até perder suas características, dando origem ao Candomblé.(3)


(1) A Circular n º 29 do M.F. datada de 13 de maio de 1891 manda queimar arquivos inerentes a escravidão.

(2) Malê vem de Malinkê (Mali-nkê, gente ou homens de Mali). Mali ou Mandinga era o nome de um reino ou império que se desenvolveu no vale do Niger. Esta raça é muito antiga e se compunha de elementos negros primitivos. Este povo tinha uma índole guerreira e cruel, eram considerados grandes mágicos e feiticeiros, e daí o termo mandinga, no sentido de mágica, coisa feita, despacho, que os negros divulgaram no Brasil.

(3) O termo Candomblé significa barracão e não é encontrado na África como culto religioso. Segundo Edison Carneiro (Os Candomblés da Bahia, 1948), é o lugar em que os negros da Bahia realizavam as suas festas públicas anuais das seitas africanas.

 

Os Mandingas

Os negros mulçumanos, chamados malês ou mandingas cultuavam Alá como seu Deus e Maomé como seu profeta e consideravam os demais negros que cultuavam os Orixás como infiéis. Os brancos, aproveitando essa animosidade, confiava aos Mandingas funções superiores aos demais, incrementando a rivalidade entre os dois grupos. Geralmente eram os mandingas que acabavam ocupando o lugar de caçadores de escravos fujões, conhecidos por capitães do mato.

 

Os mandingas tinham permissão para usar pequenos trechos do alcorão, dentro de invólucros de pele animal, que levavam ao pescoço, como patuás.

 

Quando um escravo fugia da senzala, pendurava ao pescoço um patuá, de modo que pensassem tratar-se de um negro mandinga, para não ser perseguido. Entretanto, se um mandinga o abordasse e ele não soubesse responder em Árabe, o verdadeiro mandinga descarregaria toda a sua violência nesse infeliz negro fugitivo. Assim nasceu a expressão:

 

quem não pode com mandinga não carrega patuá”.

 

A vingança a quem se atrevesse a portar um falso objeto sagrado pelo muçulmano era algo terrível. Com o passar do tempo o hábito de utilizar patuás entre os negros foi se generalizando, pois eles acreditavam que o poder dos mandingas era devido, em grande parte, aos poderes do patuá.

 

O Sincretismo

A Igreja Católica aceitava a escravidão em determinadas condições de barganha, ou seja, desde que o escravo fosse obrigatoriamente evangelizado na sua chegada ao Brasil, aprenderia as rezas latinas, receberia batismo, assistiria às missas e tomaria os demais sacramentos.

 

Graças ao sincretismo Orixá-Santo Católico, a sobrevivência dos cultos africanos tornou-se possível, embora, inicialmente tinha a intenção de fazer desaparecer as tradições religiosas africanas. Esse intento foi se frustrando com o passar dos anos.

 

Quando a Igreja percebeu que seria impossível fazer desaparecer essa profunda religiosidade, passou a estimular o sincretismo com o Catolicismo, pois muitos dos costumes negros podiam ser adaptados aos católicos.

 

Segundo Bastide, para poder subsistir durante todo o período escravagista, os deuses negros foram obrigados a se dissimular por trás da figura de um santo ou de uma virgem católica. Esse foi o ponto de partida do casamento entre o Catolicismo e a religião Africana.

 

A Igreja interferiu diretamente nesse processo. Os senhores da fazenda, percebendo que o negro apresentava um rendimento maior quando tinha lazer, passaram a incentivar a organização de festas que, obrigatoriamente coincidiam com os dias consagrados aos santos da Igreja Católica.

 

Os senhores de escravos, não percebiam que diante do humilde altar católico no muro da senzala, onde os negros podiam dançar ritualisticamente sem castigos, cultuavam na verdade, nos passos de dança, os mitos dos Orixás.

 

Após cumprirem suas obrigações com os Orixás, na natureza, os negros retiravam uma pedra do lugar sagrado, chamada otá e essa pedra passava a ser cultuada como objeto sagrado pelo resto de seus dias.

 

O sincretismo processou-se sincretismo processou-se nas diferentes regiões do país, segundo a crença ou devoção das figuras mais importantes e representativas das várias localidades.

 

Além de uma forma de resistência, o sincretismo constituiu também um modo precioso de preservar a sua cultura religiosa. Apesar disso, dos quatrocentos Orixás cultuados pelos africanos de então, apenas dezesseis conseguiram “sobreviver” as perseguições e aniquilamento dos patrimônios culturais e religiosos africanos, obedecendo a sábias determinações do Astral Superior.

 

A Concepção Religiosa dos Africanos

De um modo geral esses africanos eram monoteístas, pois adoravam a um DEUS-ÚNICO, chamado de OLORUM (entre os nagôs) e ZAMBY ou ZAMBIAPONGI (entre os angolenses).

 

Entre os nagôs(4), veneravam também a deuses, chamados de ORIXÁS, como emissários desse mesmo Olorum. Os Orixás, para os africanos, eram, e ainda são considerados como os senhores de certas FORÇAS ELEMENTAIS ou dos Elementos da Natureza.

 

Em seus rituais de nação tocavam o adarrum, espécie de toque especial de atabaques, para chamar seus Orixás. Esses atabaques eram preparados cuidadosamente, dentro de certo segredo, tudo envolvendo cânticos, ervas e certa fase da lua e tinham a denominação de RUM (o maior), RUMPI (o de tamanho médio) e LÊ (o menor). Esse toque especial com esses três atabaques era para que se desse o transe mediúnico, no Babalorixá ou na Ialorixá e nos filhos-de-santo.


https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/Tambor.jpg

Tudo isso era acompanhado de danças expressivas (apropriadas a cada Orixá), palmas, cânticos, etc.

 

Todavia, quando se dava esse transe mediúnico, todos sabiam que, quem baixava, não era o Orixá ancestral – o deus Xangô, Ogum, Oxossi etc. Era um enviado do Orixá (o Orixá intermediário), porém representava a sua força.

 

Tanto esse Orixá ancestral, quanto o intermediário, em suas concepções, nunca tinham encarnado, isto é, jamais haviam passado pela condição humana.

 

Todo esse ritual, com suas evocações, suas práticas, era quase sempre acompanhados de oferendas simples ou especiais – chamadas depois de “comida-de-santo” – tudo de acordo com a ocasião da festa ou da cerimônia que se fizesse necessário. Também era comum, antes de iniciar o ritual propriamente dito, fazer um ebó, espécie de despacho, que envolvia, desde o sacrifício de animais até o seu aspecto mais simples, com pipocas e outras coisas.

 

Desta forma, fica claro que os africanos trouxeram suas concepções bem definidas, com seus deuses, seus rituais, suas práticas e, especialmente, todo um sistema de oferendas aos Orixás, que envolviam elementos materiais, inclusive o sacrifício de animais, com sangue etc.

 

Em seus ritos, só evocavam Orixás ou seja, espíritos que nunca tinham encarnado. Os espíritos ditos como EGUNS (ou egungum), não eram aceitos, sendo repelidos por eles. Como EGUNS, qualificavam a todos os espíritos de seus antepassados, as almas dos mortos, enfim, a todos que já tinham sofrido o processo da encarnação.

 

Portanto, os espíritos de Caboclos, Pretos Velhos, Crianças, etc. seriam repelidos porque eram eguns. Todos esses são espíritos-velhos porque já encarnaram dezenas, centenas de vezes.

 

Abaixo, fundamentos dessa raiz, retalhos de uma antiqüíssima Tradição Iniciática, perpetuada por tradições orais que nunca foi codificada em livros sagrados, já que era profundamente inerente e atávica à memória coletiva deste povo.

 

(4) Desde o princípio da escravidão no Brasil, a nação Nagô (Iorubas) foi, reconhecidamente, a que dominou positivamente, quer no aspecto religioso, quer no da língua, entre as demais nações africanas aqui no Brasil, bem como, foi o sistema que mais influenciou por dentro dessa corrente dos adeptos dos cultos afro-brasileiros. Segundo Nina Rodrigues, na Bahia, os Nagôs assumiram a direção das colônias negras, impondo sua língua e suas crenças.

 

Babalorixá (função masculina) – sacerdote do culto nagô; o pai-de-santo; o chefe-de-terreiro do candomblé ou simplesmente babá-de-terreiro.

 

Babá – diminutivo do termo Babalorixá, que tanto pode designar o homem como a mulher, sacerdote ou sacerdotisa; pai ou mãe-de-santo.

 

Babalaô ou Babalawô – sacerdote do culto de Ifá, possuidor de poderes mágicos, mediúnicos e cabalísticos, conhecedor da magia branca e negra e dos verdadeiros ritos de iniciação, rezas, etc.

 

Yalorixá (função feminina) – sacerdotisa; mãe-de-santo; babá-de-terreiro; a dona do candomblé.

 

Iya-kekêrê – a mãe-pequena; a 2ª pessoa a substituir a Yalorixá.

 

Iya-bassê ou Yabá – cozinheira sagrada, mulher escolhida exclusivamente para preparar as comidas dos Orixás.

 

Iaô ou Yawô – a inicianda ou filha-de-santo no período da iniciação.

 

Ebami – a filha-de-santo ou a inicianda mais velha do terreiro.

 

Ebômim – filha de santo com mais de 7 anos de iniciada.

 

Pêji-gâ – auxiliar de confiança; zelador especial do altar ou pêji.

 

Ogâ ou Ogan (título honorífico) – espécie de protetor social do candomblé, que fornecia os meios financeiros para as festas etc. Era escolhido pelo Babá e confirmado pelo orixá.

 

Ogâ ou Ogan de atabaque – a pessoa que conhecia os segredos dos toques para os Orixás.

 

Ogâ ou Ogan de terreiro – auxiliar que se dedica a tirar os cânticos, ditos como pontos-cantados, para os Orixás.

 

Axôgun – auxiliar que se dedica exclusivamente aos ritos do sacrifício dos animais escolhidos para as divindades. É aquele que se diz ter "mão-de-faca”, isto é, o que foi preparado para matar os bichos.

 

Iyalaxé – zeladora dos achés que são certos preparos mágicos que se enterra no chão do terreiro, e também zeladora dos otás ou itas (pedras dos orixás).

 

Cambondo ou cambono – nos candomblés congo-angola significava tocador de atabaque, depois, generalizou-se nos candomblés e na Umbanda como aqueles que se ocupam de servir às pessoas mediunizadas.

 

Candomblé – o local onde se faz o terreiro. Onde se processam os ritos ou as cerimônias.

 

Candomblé de Caboclo – ritual onde predomina as evocações para os encantados – o mesmo que os Caboclos.

 

Pêjí – o altar ou o santuário dos candomblés, dito, também, como Congá.

 

Tata ou Tata-de-Inkice – sacerdote de terreiro de ritual Congo e Angola.

 

Mamêto de Inkice – mãe-de-santo de terreiro de ritual Congo e Angola.

 

Encantado – no candomblé de Caboclo e no catimbó são os espíritos protetores, chamados de mestres, etc.

 

Aiyé – Universo Material.

 

Orum – Universo Espiritual.

 

Odu – Destino individual.

 

Ilu – atabaque de um modo geral.

 

Os Principais Orixás Cultuados no Candomblé

ZAMBY – É a Suprema Divindade, Deus Supremo, Senhor do Céu e de todos os Orixás. Absorveu o Ôlorun dos nagôs, se impondo definitivamente.

 

OXALÁ[5] (termo que é uma contração de Obatalá), o filho de OLORUM, O pai da humanidade. Um ORIXALÁ, isto é, um Orixá-maior.  Costumam os adeptos do Candomblé, distinguir duas modalidades de Oxalá: Oxalufã ou Oxalá-alufan, o "velho" e Oxaguinhã ou Oxalá-Guian, o "moço".

 

YEMANJÁ – Orixá que domina o mar ou as águas salgadas, Deusa das Águas, simboliza a maternidade. Dentro do sincretismo, foi assimilada à N.Senhora da Glória em alguns locais e N.S. da Conceição, em outros.

 

OXUM – Divindade que domina os rios, cachoeiras e as águas doces. Foi sincretizada com a Imaculada Conceição dos católicos.

 

XANGÔ – Deus do Trovão, dos Raios e das Tempestades, ou seja, do fogo celeste. Na África é também conhecido sob o nome de Xangô-D’zakutá ou Jakutá, “o lançador de pedras” (do raio, do meteorito). Dentro do sincretismo passou a ser assimilado a S. Jerônimo da Igreja.

 

OXOSSI – Orixá que preside a caça, as matas, florestas e todos os vegetais etc. Dentro do sincretismo, foi assimilado a S. Sebastião.

 

OGUM – Divindade guerreira, Deus da Guerra, das Lutas e Demandas. Dentro do sincretismo passou a ser assimilado, ora a Santo Antônio (na Bahia), ora a S. Jorge (em outros estados).

 

YANSÃ – Divindade dos ventos, raios e tempestades. Sincretizada com a Santa Bárbara dos católicos.

 

OMULU (síncope de Omonolu) – Divindade cultuada com temor, pois domina e promove as doenças. É o Orixá da varíola, da peste etc. Também chamado de Abalaú-aiê ou Obaluayê, é sincretizado no Brasil como o São Lázaro dos católicos, exceção da Bahia onde é assimilado com São Roque e São Bento.

 

NANÃ-BURUQUÊ – Orixá feminino, considerada a mãe de todos os Orixás, é a Divindade da lama e dos elementos pantanosos. Sincretizada com Nossa Senhora Santana dos católicos.

 

Exu – é Orixá considerado menor, porque serve de mensageiro para os outros Orixás, principalmente para Ifá. É tido como Elegbara porque é o guardião dos terreiros, das casas e das pessoas.

 

IBÊJIS- Divindades consideradas como Orixás meninos, também chamados de Erês. Sincretizados no Brasil como Cosme e Damião da Igreja Católica.

 

IFÁ – O Orixá-oráculo, o mensageiro dos deuses, o Adivinhador. Sincretizado com o Divino Espírito Santo da Igreja Católica.

 

OSSÃE – Orixá feminino, dona das folhas. Não foi sincretizada.

 

LÔKÔ – Orixá masculino pouco cultuado nos terreiros, sendo mais na sua árvore sagrada que é a gameleira.

 

OXUMARÊ – Deus encarregado de levar as águas da chuva de volta para as nuvens através do arco-íris. É o orixá dos movimentos, da transformação e evolução. Não tem sincretismo.

 

Somente cinco desses termos representativos de Forças ou Potências, milenários, tradicionais remotíssimos, foram conservados na adaptação oculta do astral, por dentro da Lei de Umbanda.

(5) Já pela influência ou pressão do clero, foi identificado com o SENHOR DO BONFIM, da Bahia, o mesmo que JESUS. Isso foi o começo do chamado sincretismo.
 

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/Sem_t_tulo_2.jpg

 

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/Sem_t_tulo_4.jpg
 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/Sem_t_tulo_5.jpg

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/Sem_t_tulo_6.jpgEles escavavam as imagens dos santos Católicos, que eram esculpidas em madeira e colocavam a pedra dentro. Desta forma, ele poderia voltar-se para uma imagem do santo Católico e reverenciar o seu Orixá, resultando daí o início do sincretismo de crenças e divindades de vários aspectos.

 

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/orixas_africanos.jpg

 

 

A Raiz Ameríndia

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia.jpg

 

No que se refere à Raiz Ameríndia, nossa história acolheu certas deturpações das crônicas dos Jesuítas e de outros, interessados em deturpar e confundir aquilo que encontraram em matéria religiosa, na mística e na tradição de nossos índios, particularmente os tupy-nambás e os tupy-guaranys.

 

Nossos índios, especialmente os citados tupy-nambás e os tupy-guaranys, por volta do ano de 1500, não eram povos primitivos que estivessem no início de sua evolução. Essa conclusão errônea por parte dos conquistadores, que aportaram com Cabral (e mesmo os outros, que vieram depois) foi resultado da análise superficial que fizeram, já que, não vieram para o Brasil com intenção de estudar a antiguidade, a cultura, a civilização etc., dos povos que aqui viviam.

 

Os tupy-nambás e os tupy-guaranys eram de uma raça muito antiga, com origem de milhões de anos e que estava em franca decadência, no último ciclo de sua raça(6), como assinalou Von Martius(7) e constatado depois, por inúmeras autoridades e estudiosos pesquisadores.

 

Um povo que, depois de atingir o apogeu de uma cultura e de uma civilização tão adiantadas, semelhantes às dos Maias ou dos Quíchuas(8), entrou em fase de acentuada decadência da raça, todavia, conservando ainda os vestígios positivos de uma avançada civilização.https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia_2.jpg

 

Contudo é importante salientar que, embora franca involução racial, não tinham descido à degradação, à miséria física e moral, intencionalmente propalada por aqueles que tentaram apagar essa página da história da humanidade.(9)

 

Eram asseadíssimos, banhavam-se mais de uma vez por dia e viviam em ocas arejadas e muito limpas. Tinham códigos morais rígidos, assim, a calúnia, a mentira, o furto, o assassínio, o adultério, a covardia e a embriagues eram severamente punidos. A deslealdade e a traição eram consideradas atos abomináveis.

 

A transcendência de suas concepções, sua mística, enfim, sua Teogonia, eram de grande pureza e elevação, prova de que já tinham alcançado uma forte maturação espiritual.

 

E as provas dessa herança de civilização avançada foram encontradas nos conhecimentos esotéricos; na colocação da força mental em plano superior à força física, como relatam suas lendas; nos exemplares de sua arte; nas inscrições dos rochedos de todo o território nacional; nas alusões à sabedoria dos velhos – a Tuyabaé-Cuaá a que se referiram os próprios jesuítas e, principalmente, à sua língua – o Nheengatu(10), o idioma sagrado, a língua boa, incontestavelmente um idioma polissilábico.

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/tupi.jpg

 

 

 

 

 

 

Exemplo de texto em nheengatú, retirado da Grammatica da língua brasileira: (Brasílica, Tupy, ou Nheengatu) de Pedro Luis Simpson, publicada em 1876

 

(6) Toda Raça surge, faz sub-raças, evolui sob todos os aspectos e, depois, entra em decadência, para dar lugar a outra nova Raça. Estes são ensinamentos ocultos que podem ser constatados por fatos históricos.

(7) Carl Friedrich Philipp von Martius (1794-1868)foi um médico, botânico, antropólogo e um dos mais importantes pesquisadores alemães que estudaram o Brasil, especialmente a região da Amazônia. Ele acreditava que os índios eram os remanescentes de povos "superiores" que teriam construído cidades, monumentos e teriam tido códigos de conduta muito mais "evoluídos".

[8] A cultura quíchua é descendente da Inca e habita principalmente a região andina (Equador, Peru e Bolívia).

(9) Descoberto em Lima, e citado pelo Dr. J.F. Nodal (Gramática da Língua Quíchua, 1872), um documento em que a autoridade que o redigira, depois de reconhecer a maravilhosa civilização dos povos ameríndios, determinou: “por isso os bispos devem cuidar de que todos esses instrumentos perniciosos (as provas da civilização ameríndia) sejam totalmente exterminados”. Essas autoridades atuaram sobre toda a América, incluindo o Brasil, com centenas desses documentos sendo redigidos no mesmo estilo.

(10) O Nheengatu – o idioma sagrado dos Tupy-nambá, dos Tupy-guarany – revela claramente, em sua morfologia, em seus fonemas, no seu estilo metafórico etc., ter sido uma língua raiz, polida, trabalhada através de milênios. Foi tão bem trabalhada essa língua polissilábica, que se presta às mais elevadas variações ou interpretações poéticas. Dela derivaram diversos idiomas, também considerados antiqüíssimos.

 

A Concepção Religiosa dos Indígenas

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia_3.jpg

Acreditavam na existência e imortalidade do Espírito (Anga). Tinham conhecimentos esotéricos e praticavam os Mistérios Sagrados (Tuyabaé-Cuaá) e os Mistérios Solares (Guaracy) da mesma maneira que os povos mais cultos e civilizados da Antiguidade.

 

Seus payé conheciam a sugestão, o magnetismo, o hipnotismo, a magia e a interpretação dos sonhos. Curavam à distância por processos telepáticos.

 

Recitavam mantras em cadência rítmica em seus cantos e danças devocionais, quando caíam em transe. Conheciam os efeitos de certas bebidas, defumadores e das inalações em que eram queimadas folhas, sementes, resinas e madeiras, cujo perfume causava letargias, delírios e sonhos que lhes facultavam a predição do futuro.

 

Adotavam práticas e processos secretos que lhes permitiam a exteriorização consciente e voluntária do corpo astral e a ascensão ao plano astral, fenômeno que provocavam de vários modos.

 

Existem vocábulos em seu idioma, que confirmam essas assertivas, além de suas crenças e ritos, sua teogonia, suas lendas e mitos, bem como, em seu folclore.

 

Os tupy-nambá e os tupy-guarany eram, sobretudo, um povo monoteísta. Adoravam a um Deus-Supremo sobre todas as coisas, a quem chamavam com muita veneração de TUPAN ou TUPÃ.

 

TUPAN

TU (ruído, estrondo resultante de uma queda, barulho, pancada);

 

PAN (significa ou exprime o som, o estrondo, o ruído feito por alguém que bate, que trabalha, que malha etc).

 

TUPAN era, portanto, o Supremo Manipulador, isto é, Aquele que manipula a natureza ou os elementos. É o divino Ferreiro que bate incessantemente na Bigorna Cósmica. Era considerado, sem dúvida alguma, o Supremo Poder Criador.

 

Adoravam a GUARACY, YACY e RUDÁ (ou Perudá), como a tríplice manifestação do poder de TUPAN. Eram atributos externos.

 

GUARACY (o Sol)

 

Guará (ser vivo, vivente);

 

cy (mãe, raiz, fonte, causa ou princípio).

 

Pai ou mãe dos viventes no sentido correto de que o Sol era (e é) o princípio vital que animava todas as coisas da natureza, o mesmo que a luz que criava a vida animal, etc. Guaracy era a representação visível, física, do Poder Criador que, através dele, criava nos elementos da própria natureza, as coisas, os seres etc. Enfim, era o elemento ígneo – o pai da natureza.

 

Diziam que de Guaracy, saía tatauy (as flechas de fogo de Tupan, os raios do céu) que se transformavam em tupacynynga (o trovão). Por causa disso é que houve uma interpretação errônea de Tupan como sendo, puramente, o deus do trovão.

 

YACY (a Lua)

 

Ya (planta);

 

cy (mãe ou progenitora).

 

Yacy era a mãe dos vegetais ou ainda a mãe natura.

 

RUDÁ ou PERUDÁ (o deus do amor e da reprodução). Rudá era evocado pelas cunhãs (mulheres), em suas saudades, em seus amores, pelos guerreiros ausentes, para que eles só tivessem pensamentos e coração para recordá-las.

 

E ainda dentro desse conceito teogônico tríplice, os payé (sacerdotes) ensinavam que, Guaracy representava o Eterno masculino, o princípio vital positivo, quente, de todas as coisas. E Rudá era o intermediário, isto é, o amor que unia os dois princípios na “criação da natureza”.

 

O Culto de Muyrakytan

 

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia_4.jpg

Muyrakytan era uma divindade de um culto antiqüíssimo, pré-histórico, professado pelos primitivos e mais antigo habitantes do Brasil.

 

Termo oriundo de uma língua matriz, o ABANHENGA, que surgiu com a primeira raça que nasceu na região de brazilian(11).

 

MUYRAKITAN ou MURAYRAKITAN

 

mura (mar, água);

 

yara (senhora, deusa);

 

kitan(botão de flor).

 

Portanto, Deusa que floriu das águas, Senhora que nasceu do mar, Deusa ou Senhora do mar.

 

Veneravam esta Divindade, a quem prestavam um culto todo especial. Acreditavam em seus poderes mágicos e terapêuticos, através da itaobymbaé (pedra verde) – espécie de argila de cor verde, uma substância nativa, colhida no fundo de certos lagos, a qual transformavam em poderosos amuletos sagrados, que adquiriam a forma de um disco.

 

Os itaobymbaé só podiam ser colhidos e preparados pelas ikannyabas, as cunhãtay, moças virgens que eram votadas, desde a infância, como sacerdotisas do culto de MUYRAKITAN, o qual era vedado aos homens. Posteriormente, isto é, no período da decadência, se transformou no culto de Yurema, conhecido na adaptação do elemento branco como o “adjunto da Jurema”.

 

Essas sacerdotisas eram as únicas criaturas entre os tupy-guarany que tinham o privilégio de conhecer os lugares onde existiam as jazidas da misteriosa pedra verde e só elas sabiam e podiam preparar esses talismãs.

 

Para o preparo dos amuletos sagrados, esperavam sempre que YACY, a lua, estivesse cheia, estendendo a sua luz sobre as águas do lago escolhido pelas ikannyabas, dentro de uma severa preparação ritualística e mágica, para ele se dirigiam, no silêncio das noites. Esse preceito implicava na passagem da árvore da YUREMA verdadeira, onde invocavam ou imantavam os fluídos magnéticos da lua, através de cânticos e palavras especiais sobre determinado número de folhas, para serem mastigadas por elas, na ocasião de mergulharem no lago.

 

Assim, enquanto algumas dessas ikannyabas mergulhavam, as outras ficavam entoando certos cantos doces, melancólicos e rítmicos acompanhados do termo mágico ma-ca-uam.

 

Quando uma ou outra emergia com a substância maleável – a argila verde – as outras a colocavam em pequeninas formas, já com o formato de um disco, com um orifício no centro.

 

Depois de recolhida a quantidade necessária, todas ficavam à beira das águas em cerimônia especial, uma espécie de encantação mágica, toda dedicada às forças da águas – a Muyrakitan, até que Guaracy, o Sol, começasse a nascer, a fim de endurecer com seus raios de luz a dita substância, para ficar como o itaobymbaé. Esses talismãs tomavam uma consistência tão rija, que nada mais poderia ser feito ou talhado sobre eles.

 

Esses amuletos de Muyrakitan eram verdes, ora mais claros, ora mais escuros, mais azulados ou mais amarelados e os mais preciosos eram os que se apresentavam com veios brancos. Todos eram de uso exclusivamente feminino e usados na orelha esquerda das cunhãs ou mulheres.

 

Esse pequeno disco de nefrita perfurado no centro, representava o sexo feminino, a parte exterior do aparelho genital da mulher, bem como, o emblema sagrado e divino do disco lunar.

 

O seu equivalente para os homens era o TEMBETÁ, um talismã de nefrita verde, em forma de T, que os índios traziam pendente no lábio inferior, através de uma perfuração. Era um símbolo fálico e representava o Poder Criador, o Princípio Fecundante, o Eterno Masculino.

 

TEMBETÁ, se originou de Tembaeitá.

 

ou T (o signo divino, gravado nas pedras sagradas, da cruz - de curuçá);

mbaé (objeto);

 

ita (pedra).

 

Pode ser interpretado corretamente assim: cruz feita de pedra (em sentido sagrado).

 

O tembetá era um talismã de Guaracy – o Sol – preparado pelos payé ou pelos karayba, para que imantasse o raio, o fogo do céu, enfim, a energia solar. Era o símbolo mágico do “deus-sol”. Também preparavam outros amuletos que tomavam a designação de Itapossangas, inclusive os que eram feitos ou recebiam a força de YARA – mãe d’água.

 

A muyrakitan e o tembetá juntos representavam a força mágica de TUPAN – o Deus ÚNICO.

(11) A antiguidade do Brasil – e das Américas – os brasis, o brazilian dos primitivos morubixabas, foi retratada na história de forma adulterada, conforme se comprova nas pesquisas de reconhecidas autoridades, teólogos e cientistas internacionais, como: Peter Lund, Ameghino, Pedberg, Gerber, Hartt, H. Girgois, Alfredo Brandão, Domingos Magarinos e outros. Através de toda essa literatura, científica e histórica, se comprova que a primeira região a emergir das águas oceânicas – foi o Brasil, o mais antigo continente do nosso planeta; que a escrita mais antiga de toda a humanidade tem sua origem na primeira raça que surgiu na primeira região do planeta Terra, que adquiriu as condições climatéricas para isso – o Planalto Central do Brasil.
 

O Tuyabaé-cuáá - a sabedoria dos velhos payé

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia_5.jpg

Tuyabaé-cuáá, a sabedoria dos velhos payé, era a tradição mais oculta, conservada através de milênios, de payé a payé, ou seja, de mago a mago.

 

O PAYÉ era o mago mais elevado, dentro da tribo. Conhecia profundamente a magia, praticava o magnetismo, o hipnotismo, a sugestão e, sobretudo, era mestre no uso dos mantras(12). O Karayba não tinha a categoria de um payé; era tratado mais como feiticeiro, isto é, aquele que se dava às práticas de fundo negro etc. Posteriormente, confundiram um com o outro.

 

O Tuyabaé-cuáá conjugava todos os conhecimentos mágicos, fenomênicos, espiríticos, ritualísticos, religiosos e terapêuticos (o caa-yaari).

 

A tradição, os ensinamentos, as práticas mágicas, terapêuticas, o mistério das plantas na cura, a interpretação misteriosa sobre as aves, tudo isso era tuyabaé-cuaá.

 

Todo movimento espiritual, mágico ou de fenômenos astrais que pudesse afetar a vida da tribo era coordenado pelo payé, que influenciava diretamente o morubixaba, que, como chefe da tribo, praticamente nada fazia sem consultar o payé, que por sua vez também ouvia os anciões.

 

Esses velhos magos da sabedoria – os payé, (ou pajés, como se grafou depois) conheciam o mito solar, através dos Mistérios Solares (simbolizados no Cristo Cósmico), tanto é que jamais se apagou dos ensinamentos dessa tradição remotíssima o legado de seus antepassados sobre YURU-PITÃ, SUMAN e YURUPARY(13).

 

Vamos entender melhor sobre isso...

 

Reza a tradição que, num passado longínquo, surgiu, no seio da raça tupy, iluminada pelo “deus-sol” uma criança loira, que disse ter sido enviada por Tupan. Essa criança que recebeu o nome de YUPITAN, cresceu um pouco entre eles e um belo dia, também iluminada pelo sol, desapareceu. Falava e ensinava coisas maravilhosas e revelou que noutra época viria SUMAN e depois YURUPARY.

 

Realmente o termo Yupitan tem um significado profundo:

 

YUPITAN

 

YU (loiro, dourado);

 

pitan (criança, menino).

 

Significava, na antiguíssima língua matriz, o abanhenga, criança ou menino loiro iluminado pelo sol.

 

Davam-lhe também o nome de ARAPITÃ

 

ara (luz, esplendor);

 

pitã (criança, menino).

 

Significava o filho iluminado de Aracy

 

Ara (luz);

 

cy(mãe ou progenitora, origem etc.)

 

Muito depois de terem passado algumas gerações, reza a tradição que, vindo do lado do Oriente, aparece um velho de barbas brancas, entre os tupy-nambá, dizendo-se chamar SUMAN (ou SUMÉ), que passou a ensinar a lei Divina e muitas outras coisas, de grande utilidade. Ele dizia, também, que foi Tupan que o tinha mandado. SUMAN também, certo dia, se despediu de todos e pôs-se a caminhar para o lado do Oriente até desaparecer, deixando entre os payé todo o segredo do tuyabaé-cuaá e assim ficou lembrado como o “pai da sabedoria”.

 

Entre os tupis-guaranis, também foi constatada a tradição viva, positiva, sobre YURUPARY – o seu Messias (possivelmente, uma das encarnações do Cristo Planetário).

 

Yurupary

 

yuru(pescoço, colo, garganta ou boca);

 

pary (fechado, apertado, tapado).

 

Significa o mártir, o torturado, o sofredor, o agonizante.

 

YURUPARY, na teogonia ameríndia, foi o filho da virgem Chiúcy.

 

Chiúcy

 

Chiú (pranto);

 

cy (mãe).

 

Portanto, a mãe do pranto, a máter dolorosa que viu seu filho querido ser sacrificado porque pregava o amor, a renúncia, a igualdade e a caridade (tal e qual JESUS). (14)

 

YURUPARY foi, portanto, entre os tupy-guaranis, um MESSIAS e não o que os jesuítas daqueles tempos interpretaram – o diabo(15). Tanto é que se perde no passado de sua remotíssima tradição esse tema de um Messias, da cruz e de seu martírio. Por isso é que veneravam a Curuçá.

 

Curuçá – a cruz

 

curu (fragmento de pau ou de pedra);

 

çá (gritar ou produzir qualquer som estridente).

 

Curuçá em sentido místico significa cruz sagrada, porque recebeu o sofrimento, o grito do agonizante, a agonia do mártir.

 

Em certas cerimônias, os payé, depois de produzirem o fogo atritando dois pedaços de pau, os cruzava (para formar uma cruz) para simbolizar o Poder Criador – o FOGO SAGRADO.

 

E foi por causa disso, desse conceito, desse conhecimento, que os índios receberam com alegria, como amigos e irmãos, aos portugueses de Cabral, porque nas velas de suas naus estavam desenhada uma espécie de cruz. Pensaram que – segundo uma antiga profecia – eles vinham para ajudá-los... e como se enganaram...

 

Os payé quando queriam simbolizar a eterna verdade sobre aquele enviado de Tupã, que entre eles veio como Yurupary, exemplificavam este mistério, tomando de uma flor de mborucuyá...

 

Mborucuyá (maracuyá ou maracujá) revela em sua flor a coisa sagrada; ela obedece Guaracy – o Sol – que é filho de Tupã. Quando ele nasce, ela vive, se abre e mostra seus mistérios e quando ele morre, se esconde (no ocaso), ela se enluta, se fecha. (16)

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/maracuj_.jpg

 

Ensinam que a flor do maracuyá guarda a paixão, o martírio de Yurupary; ela tem os cravos, a coroa, os açoites, a coluna e as chagas. E assim, reavivava na lembrança todos os conselhos de seu Messias, de seu reformador – o filho da virgem Chiúcy.

 

O próprio termo mborucuyá diz tudo em seu significado:

 

mboru (tortura, sofrimento, martírio);

 

cuyá (o mesmo que cunhã, mulher).

 

Significa martírio da mulher.

 

Conhecedores da magia, praticavam também todas as modalidades mediúnicas e quando queriam que as mulheres que tinham um dom, profetizassem, isto é, caíssem em transe mediúnico, primeiro envolviam-nas em defumações especiais de plantas escolhidas, depois emitiam um mantra próprio para as exteriorizações do corpo astral – o termo ma-ca-aum, dentro de vocalizações especiais e rítmicas. Logo, aplicavam sobre suas frontes o mbaracá. Elas caíam como mortas, eles diziam palavras misteriosas e elas se levantavam, passando a profetizar com o Rá-anga – os espíritos de luz.

 

(12) Atualmente nenhuma Escola conhece mais o segredo dos mantras. Apenas, dentro dos mais altos graus, ensinam certas vocalizações simples com vogais, doutrinando que “mantras são vocalizações especiais que se imprimem às palavras, num cântico”. Todavia, isso não resolve nada, em matéria de magia, na movimentação da força dos elementais. Os Caboclos de Umbanda ensinam que mantras são vocalizações especiais que se imprimem sobre certos termos, isto é, sobre palavras especiais.

(13) Yurupary foi chamado pelos jesuítas de “Jurupari”, termo incorreto já que no nheen-gatú não existe a letra J.

(14) Esse arcano aparece de norte a sul em várias coletâneas brasileiras.

(15) Tal e qual fez com os africanos, a Igreja também quis fazer assimilações entre os nossos índios com seus “santos”. Os jesuítas fizeram uma tremenda força, para “identificar” Suman ou Sumé com o “Santo Thomé ou Tomé”, deles. Mas não “pegou” de jeito algum... Sobre a Tradição de Yurupary, o Cel. Sousa Brasil no tomo 100 do vol. 154 da Revista do Instituto Histórico – 2º, de 1926, dá testemunho irrefutável dessa venerada tradição que ainda encontrou entre os nossos índios.

(16) A ciência denomina Heliotropismo os movimentos de plantas ou animais, ou de alguns dos seus órgãos em direção ao sol. É a resposta de um organismo a uma fonte de luz.

 

O Mbaracá ou maracá

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/raiz_amerindia_6.jpg

 

O mbaracá era uma espécie de chocalho, manipulado do fruto conhecido como cabaceira (cucurbita lagenaria) e dentro dessa cabaça, eram colocadas certas pedrinhas ou seixos. Essas pedrinhas eram amuletos ou itapossangas especiais, inclusive o itaobymbaé, bem como o tembetá.

 

O mbaracá era um instrumento que produzia ruídos ou sons especiais. Ele falava, respondia, sob a ação mágica dos payé. Instrumento dotado de um poder magnético, era, positivamente, um canal mediúnico.

 

O preparo do mbaracá era feito sob as forças da magia dos astros. Tanto empregavam esse mbaracá para os efeitos mágicos, como para os fenômenos mediúnicos ou para fins hipnóticos, ativando o ardor dos guerreiros, no combate.

 

Jamais explicaram ao branco, como procediam para comunicar esses poderes ao mbaracá, em suas cerimônias de bênção, batismo, e imantação, embora tenha testemunhado essas cerimônias e esses poderes, Hans Standen, um alemão que foi aprisionado pelos tupy-nambá, durante muitos anos e que pôde assistir a esses fenômenos produzidos pelos payé.

 

Outra testemunha também presenciou os poderes mágicos de um karayba e esse foi o padre Simão de Vasconcellos, que relata no livro II das Crônicas da Companhia de Jesus do Estado do Brasil o caso da clava sangrenta. Disse ele:

 

 “um tal carahyba fixou duas forquilhas no chão, a elas amarrou uma clava enfeitada de diversas penas e depois lhe andou em torno, dançando e gesticulando num cerimonial estranho, soprando e dizendo-lhes frases. Logo depois desse cerimonial, a clava desprendeu-se dos laços e foi levada pelos ares, até desaparecer no horizonte, voltando depois, pelo mesmo caminho, à vista de todos, visando colocar-se entre as forquilhas, notando-se que estava cheia de sangue”.

 

Na terapêutica eram mestres na arte de curar qualquer doença – muitas das quais, a medicina oficial tem considerado incuráveis – pelo emprego das plantas, ervas ou raízes. Ao segredo mágico e astral de preparar as plantas curativas, denominavam de caa-yary.

 

Caa-yary também era o espírito protetor das plantas medicinais e aquele que se voltava a ele, na arte de curar, não podia nem ter relações com mulher, tal o formidável compromisso que assumia.

 

Os payé faziam constantemente uma espécie de sessão para fins mediúnicos, quando evocavam Rá-Anga – os espíritos da luz – a qual denominavam GUAYÚ, que se processava sob cânticos e danças rítmicas. Essa cerimônia Guayú era sempre feita, para tirar guayupiá – a feitiçaria, de alguém.

 

Antes desse ritual mediúnico, tinham um particular cuidado no preparo dos timbó a serem usados, isto é, faziam os defumadores propiciatórios para afastar ANHANGÁ, que era o espírito das almas penadas, atrasadas.

 

A influência do branco na religiosidade Ameríndia

 

Quando Portugal iniciou a colonização do Brasil, trouxe a religião oficial: o catolicismo. A igreja católica, naquele momento, perdia adeptos para as religiões protestantes que se formavam na Europa, portanto, a conversão dos habitantes do Novo Mundo representava importante oportunidade para a Igreja estender sua área de influencia.

 

Com o crescente potencial econômico gerado pelo cultivo da cana de açúcar, a metrópole portuguesa, visando exercer um controle político mais intenso sobre o território, instalou o Governo Geral em 1549 na Bahia, fundando a cidade de Salvador. Foi neste período que chegaram as primeiras missões jesuíticas a fim de domesticar os índios, visando atender aos interesses da produção açucareira, tendo em vista que a lavoura exigia grandes contingentes de trabalhadores.

 

A mão-de-obra indígena, contudo, não se adaptava ao trabalho cotidiano e foi substituída pela de origem africana. Portugal era especializado no trafico negreiro e não teve dificuldades de abastecer a colônia com escravos.

 

A presença portuguesa nos primeiros tempos da colonização representou um verdadeiro genocídio contra a população ameríndia. Uma população estimada em cinco milhões de nativos, em 1500, foi reduzia a 200 mil indivíduos. Tribos foram totalmente dizimadas, como a dos Tupinambás, que habitavam no litoral brasileiro.(17) Os que não foram mortos, acabaram escravizados e convertidos a Fe Católica.

 

Todavia, os grupos indígenas não abandonaram totalmente as crenças tradicionais, não deixaram de acreditar nos próprios deuses, de cultuar os espíritos das florestas ou de reverenciar os ancestrais da tribo.


(17) Ver Umbanda Paz, Liberdade e Cura, de Jose Luiz Ligiero e Dandara, editora Nova.

Idioma Tupy

  • Aba = pena ou pêlo
  • Abaiuba = pena amarela
  • Abanheenga = língua boa (referente ao primitivo Tupi)
  • Abaré = sacerdote
  • Abaré –mirim = pequeno sacerdote
  • Abaré-guaçu = grande sacerdote
  • Aca
  • Araçaí = luz irradiada
  • Caruamã = cara vermelha
  • Guará = luz que vive
  • Itá = pedra
  • Ka’a = mata, floresta
  • Ngatu ou gatu = boa
  • Piratinga = peixe branco
  • Piraúba = pai dos peixes
  • Potyra = flor
  • Tacuigi = pedra da matriz da cachoeira
  • Tinga = branco(a), daí itatinga ser pedra branca
  • Tupã-T-ayra = Messias (Filho de Deus)
  • Tupayba = fruto de tupã
  • Ubatinga = flecha branca
  • Upaba = lago
  • Ypiranga ou Ipiranga = rio vermelho
  • Ybaca = céu
  • Ybyrá = árvore
  • Ybytyra = montanha

Obs: Todas as imagens de indígenas que ilustram os textos referente “A Raiz Ameríndia” são do artista Filipe Nery.

 

O Pai-Nosso em Tupi Antigo

(Versão do Padre Antonio de Araújo, 1618)

Oré rub, ybakype tekoar,

Nosso Pai, o que está no céu,


i moetepyramo nde rera t'oîkó.

Como o que é louvado teu nome esteja

T'our nde Reino!

Que venha teu Reino!

T’onhemonhang nde remimotara

Que se faça tua vontade

ybype

na terra,

Ybakype i nhemonhanga îabé!

Como o fazer-se dela no céu!

Oré remi'u, 'ara-îabi'õndûara,

Nossa comida, a que é de cada dia

eîme'eng kori orébe.

dá hoje para nós

Nde nhyrõ oré angaîpaba resé orébe,

Perdoa tu nossos pecados a nós.

oré rerekomemûãsara supé

como aos que nos tratam mal

oré nhyrõ îabé.

nós perdoamos

Oré mo'arukar ume îepé tentação pupé,

Não nos deixes tu fazer cair em tentação,

oré pysyrõ-te îepé mba'e-a'iba suí.

mas livra-nos tu das coisas más

 

As Fusões da Raiz Afro e da Raiz Ameríndia.

 

O Culto Bantu dos africanos aqui no Brasil começou a receber as influências dos outros cultos, principalmente do nagô.

 

Do lado ameríndio o primitivo Culto de Muyrakitan foi sendo esquecido, se apagando dentro dos ritos sagrados dos tupy-nambás, dos tupy- guaranys e outras tribos, após a era cabralina, deixando como herança, mas ainda conservados seus aspectos puros, o Culto da Yurema.

 

Por volta do ano de 1547, foi constatada uma mistura entre esses ritos africanos (já bastante influenciados pelos vários cultos) e o cerimonial que os nossos índios praticavam. A essa fusão, denominou-se Adjunto de Jurema, que por sua vez, era uma degeneração do verdadeiro Culto da Yurema.

 

Essas práticas religiosas, mágicas, dos índios, chamadas “Adjunto de Jurema”, que envolviam ervas, rezas, exorcismos ou invocações, com oferendas, cânticos, etc., foram, posteriormente, denominadas pelos brancos como Pajelança.

 

Dessa fusão entre o culto dos bantus e o Adjunto da Jurema surgiu, depois de alguns anos, outra espécie de rito, com práticas mistas que foi chamado de Candomblé de Caboclo, onde a par com a evocação e a crença nos Orixás, predominava mais a influência ameríndia, com seus Caboclos, seus Encantados, etc.

 

Todavia, essa fusão, degenerou mais ainda, prevalecendo certas práticas como pura feitiçaria. Assim surgiu a prática denominada de Catimbó.

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/miscigena_o.jpg9

O termo catimbó é uma corruptela de timbó ou caa-timbó do idioma Nheengatu, a língua sagrada, dos tupy-nambá ou tupy-guarany, e significa defumação.

 

Nas práticas do Candomblé de Caboclo, dado a influência ameríndia, se usavam muito os timbós ou catimbós, com o uso exagerado de muita fumaça de cachimbo. Então, por uma associação de idéias, de correlação, passaram a chamar de Catimbó.

 

As sessões de Catimbó são chamadas de mesa. Fazer mesa é abrir uma sessão. O trabalho para o bem, tratamento médico, remédios, conselhos, orientações benéficas, amuletos, é denominado fumaça às direitas. Trabalho para o mal, vinganças, dificultar negócios, impedir casamentos, adoecer alguém, conquistar mulher casada, despertar paixões para relações não-conjugais, é fumaça às esquerdas.

 

Nesse Catimbó, que ainda hoje em dia existe em muitos Estados, as sessões são consagradas à prática da bruxaria, dos feitiços, envolvendo raízes, ervas, nozes, frutas, defumações fortes, bebidas alcoólicas aliadas à matança de animais para os chamados despachos. Nas sessões bebe-se, fuma-se, canta-se e dança-se muito, com evocações extensivas a tudo quanto seja Espíritos de feiticeiros indígenas e mandingueiros africanos do passado.

 

Toda essa mesclagem de práticas e concepções vinha sendo executada através de variados e estranhos rituais. Acrescente-se isso a influencia do catolicismo mediante alguns de seus santos, que foram identificados (sincretismo) com certos Orixás.

 

Toda essa complexa mistura, que o leigo chama de macumba, baixo-espiritismo, magia-negra, etc. e em certos Estados do Brasil, de canjerê, pajelança, batuque ou toque de xangô, babassuê, tambor de mina etc., recebeu ainda, nos últimos 50 anos, mais uma acentuada influência – a do Espiritismo, também chamado de Kardecismo.

 

Então tínhamos todos esses aspectos, envolvendo práticas, as mais confusas, materialmente grosseiras, de ritualísticas barulhentas (pelos tambores, triângulos, cabaças e outros instrumentos exóticos), tudo isso em pleno Século XX, norteando, por afinidade, uma imensa coletividade, com seus milhares de Centros, Terreiros, Tendas, Cabanas, etc.

 

Abaixo, algumas variações do citado sincretismo, em alguns estados do nosso Brasil:

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/santos.jpg

 

O Surgimento do Espiritismo

O espiritismo surgiu nos Estados Unidos, a partir das primeiras manifestações (ruídos de pancadas e movimentação de móveis), ocorridas com as irmãs Fox, quando ainda eram crianças em 1848. As notícias do fenômeno se espalharam e sessões espíritas começaram a ser realizadas por toda a parte, tanto nos Estados Unidos quanto na Europa.

 

Contudo, foi com Alan Kardec(18), pseudônimo de Hippolyte Léon Denizard Rivail, que esses fenômenos passaram a ganhar credibilidade.

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/alan_kardec.jpg

 

Nascido em Lyon, na França, em 1804, Alan Kardec formou-se em letras e ciências e doutorou-se em medicina na Suíça. Em 25 de março de 1856, numa sessão, Kardec recebeu, através de uma médium, a informação de que dali por diante, um espírito denominado “A Verdade”, seria o seu guia espiritual.

 

Em 18 de abril de 1857, publica O Livro dos Espíritos, e após outras obras: O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gênese, O Céu e o Inferno, O Livro dos Médiuns, O Que é o Espiritismo e Obras Póstumas. Kardec faleceu no dia 31 de março de 1869, em Paris, aos 65 anos de idade. Na França de hoje, não há mais de mil adeptos do espiritismo.

 

No Brasil, na segunda metade do século XIX, surgem os novos ricos, os senhores do café, com suas imensas fortunas, obtidas com a lavoura do café.  Eles faziam constantes viagens principalmente a Paris, que era na época o maior centro cultural do mundo.

 

Nesta época, a sociedade brasileira absorveu rapidamente todas as novidades vindas da França, tais como a moda, ciência, perfumaria, etc. Uma dessas novidades eram os fenômenos espíritas.

 

Por volta de 1863 o Espiritismo foi introduzido no Brasil e teve sucesso imediato. Nessa fase inicial era praticada pelos intelectuais, médicos, engenheiros, funcionários públicos e universitários.

 

Com relação às tradições africanas e ameríndias, o kardecismo estabeleceu uma relação ainda mais discriminatória do que a adotada pela Igreja Católica, considerando os espíritos de índios e negros como atrasados e carentes de luz. Kardec, entretanto, não escreveu uma linha a respeito da inferioridade espiritual de qualquer raça humana, mas os seguidores associam freqüentemente os comentários do autor frances, sobre a existência de espíritos atrasados, embrutecidos ou materialistas a esse dois segmentos da sociedade brasileira.

 

Dentro da prática do Espiritismo, quem em vida não houvesse sido importante, não tinha o direito de se manifestar nas chamadas sessões espíritas. Por isso, um espírito que havia sido um escravo, era de imediato convidado a se retirar da sessão.

 

Os reflexos dos desmandos espíritas no século XIX fizeram se sentir ainda mais, quando uma dissidência entre seus líderes originou duas correntes: os espíritas que se preocupavam apenas com as manifestações espíritas em si, chamados espíritas científicos e os que se preocupavam com a parte doutrinária da religião, chamados místicos.

 

Lutas, dissensões, represálias, perseguições, um mundo enfim de atividades nocivas caracterizavam o movimento espírita no final do século XIX.

 

(18) Alan Kardec era um pseudônimo que lhe fora revelado como sendo o nome da ultima encarnação na Terra, quando viveu como um druida na antiga Galia.

 

A implantação do Movimento Umbandista

Diante de toda a situação existente gerada pelos fatores de fusão e degeneração e conseqüentes misturas da raiz Afro e da raiz Ameríndia, a par com a situação do Espiritismo no Brasil, e, principalmente, do conflito racial gerado a partir do processo escravagista e do massacre aos povos indígenas, o Astral Superior resolveu incrementar sobre essa coletividade em litígio (brancos, negros e índios) um conjunto de leis regulativas, bem como, disciplinar os rituais de baixa estirpe, em sua maioria impregnados de sentimentos de ódio e vingança.

 

Surgiu, então, um vigoroso MOVIMENTO DE LUZ, ORDENADO PELO ASTRAL SUPERIOR que abarcou tudo isso numa tremenda e poderosa interpenetração humana e astral, a fim de que, essa imensa massa de adeptos retomasse o caminho evolutivo mais reto e seguro possível. Essa coletividade, não podia continuar assim, dentro das condições expostas.  Era (e ainda é) em 90% de ausência absoluta naqueles ambientes, a Doutrina, o Evangelho e o estudo da mediunidade.

 

Esse poderoso MOVIMENTO DE LUZ, dentro dessa coletividade, foi feito diretamente pelos espíritos que se apresentaram como Caboclos, Pretos-Velhos e Crianças, obedecendo, é claro, a ordens superiores e lançando o nome de UMBANDA.

 

A Sabedoria Divina, através dos Espíritos Mentores, vendo essa coletividade e analisando suas concepções, seu alcance espiritual, pelas tendências, pelo misticismo, pela religiosidade, pelo atavismo que nela imperava, estudou a melhor maneira de incrementar a sua evolução.

 

Desta forma, por ordem de cima, os Espíritos-Mentores chamaram os espíritos de Pretos-Velhos, de Caboclos e de Crianças, por serem os espíritos-afins e com ligações cármicas a essa coletividade, para incrementar a evolução desse rebanho.

 

Chamaram também espíritos elevados(19) de outras condições – com um carma individual e grupal já superado, para ajudarem, em missão, àqueles. Todos se lançaram como “pontas-de-lança” dentro desse meio (astral e humano) dessa coletividade umbandista, aproveitando, de imediato, a mediunidade dos encarnados, escolhidos para este mister.

 

Esses espíritos de Pretos-Velhos foram requisitados, dentre os antigos Babalawôs ou primitivos sacerdotes, de muitas encarnações, experimentados e de grande conhecimento, bem como, os espíritos dos antiqüíssimos payé, karaybas, morubixabas, caciques e outros mais, da primitiva Raça Tupy (tupy-nambás e tupis-guaranis) de comprovado saber e experiência, todos com encarnações da era pré-cabraliana, época em que essas tribos ou nações estavam no apogeu de seus ciclos evolutivos.

 

Foi então que surgiram as primeiras manifestações dos Cacarucaio – os Pretos-Velhos, dos primeiros Caboclos, nos terreiros, através da mediunidade de uns e de outros, os chamados médiuns. E também vieram, acompanhando os Pretos-Velhos e os Caboclos, as falanges dos espíritos de Crianças, que foram ordenados para essa missão, dado a mística dessa coletividade sobre eles, pela derivação da crença dos Ibejis dos africanos e dos curumins dos índios.

 

Todas essas entidades – e outras mais aos milhares – desceram como pontas-de-lança, ordenadas pelo Tribunal Planetário, a fim de incrementarem por todos os meios e modos a EVOLUÇÃO dos adeptos dos cultos afro-brasileiros.

 

E como legítimos trabalhadores da seara do Cristo Jesus, foram logo ensinando a Sua Doutrina, isto é, as Leis do Pai-Eterno.

 

E começou a gigantesca luta - batalha da luz contra a sombra, silenciosa, firme, incansável, tão grandes eram e ainda são os obstáculos de ordem astral, moral, espiritual e, sobretudo, de material humano, mediúnico.

 

Muito embora lutassem com a dificuldade do material humano mediúnico, mesmo assim, conseguiram firmar idéias e princípios, estabelecendo as REGRAS e fizeram um vasto trabalho de adaptação de conceitos sobre Linhas etc.

 

A coletividade umbandista vem, há muito, se ajustando lentamente, devido à variação de entendimentos ou graus de alcance entre grupos e indivíduos, embora a influência da Umbanda tenha já se projetado, se firmado mesmo em todas as classes sociais.

 

Trabalho impressionante, majestoso, titânico, esse da Corrente Astral de Umbanda, que iniciou esse movimento novo da doutrina, luz e escoimação.

 

Para facilitar os entendimentos sobre todos esses fundamentos históricos e suas decorrências, damos na página seguinte, o organograma completo, pelo qual se torna mais fácil ao estudante concatenar, revisar claramente tudo que leu até agora.


(19) Esses espíritos elevados e Mentores, como Guias e Orixás-intermediários, ao penetrarem na faixa-astral umbandista, tomam a “roupagem fluídica” de caboclos, pretos-velhos, crianças, etc.

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/organograma.jpg

 

Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete Encruzilhadas

A história da primeira manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas anunciando a Umbanda sofre algumas variações de narrador para narrador, mas a estrutura básica se mantém inalterada.

 

Zélio Fernandino de Moraes nasceu em abril de 1891 e viveu, desde a infância até a juventude, com seus pais em São Gonçalo, município vizinho de Niterói, no bairro das Neves.

 

Leal de Souza jornalista que conheceu de perto a família Moraes, relatou (O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas deUmbanda, 1933) que Zélio pertencia a uma família humilde cuja residência era uma casa pobre de um bairro paupérrimo.

 

Aos 17 anos quando estava se preparando para servir as Forças Armadas, fatos estranhos começaram a lhe acontecer: ora ele assumia a estranha postura de um velho, falando coisas aparentemente desconexas, como se fosse outra pessoa, e em outras ocasiões, sua forma física lembrava um felino lépido e desembaraçado que parecia conhecer os segredos da natureza, os animais e as plantas.

 

A princípio, a família achou que houvesse algum distúrbio mental e o encaminhou ao seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, médico psiquiatra e diretor do Hospício da Vargem Grande que após alguns dias de observação, e não encontrando os seus sintomas em nenhuma literatura médica, sugeriu a família que o encaminhassem a um padre para um ritual de exorcismo, pois desconfiava que o sobrinho estivesse possuído pelo demônio. Após um padre da família realizar rituais de exorcismo não conseguiu nenhum resultado, pois as manifestações prosseguiram.

 

Tempos depois Zélio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os médicos não conseguiram encontrar a cura.

 

Certo dia, de forma repentina, Zélio ergueu-se do seu leito e declarou: "amanhã estarei completamente curado". No dia seguinte começou a andar como se nada tivesse acontecido. Nenhum médico soube explicar como se deu sua recuperação.

 

Sua mãe levou Zélio a uma negra benzedeira chamada Cândida - figura conhecida na região e que incorporava o espírito de um preto velho chamado Tio Antonio. A entidade recebeu o rapaz e fazendo suas rezas disse-lhe que aquilo que ele possuía era proveniente da mediunidade que estava aflorando e que deveria trabalhar com a caridade.

 

O Pai de Zélio era um simpatizante do espiritismo e mantinha o hábito da leitura da obra de Allan Kardec. No dia 15 de novembro de 1908, por sugestão de um amigo de seu pai, Zélio foi levado a Federação Espírita de Niterói, onde foram convidados pelo presidente daquela instituição, Sr. Jose de Souza, a sentarem-se a mesa.

 

Movido por uma força estranha, alheia à sua vontade e contrariando as normas do culto realizado, que impedia o afastamento dos componentes da mesa, Zélio levantou-se e disse que ali faltava uma flor. Foi até o jardim apanhou uma rosa branca e colocou-a no centro da mesa na qual se realizava o trabalho. Iniciou-se, então, uma estranha confusão no local, ele incorporou um espírito e, simultaneamente, diversos médiuns presentes apresentaram também incorporações de caboclos e pretos velhos.

 

Advertidos pelo dirigente do trabalho, a entidade incorporada no rapaz perguntou:

 

"Porque repelem a presença dos citados espíritos, se nem sequer se dignaram a ouvir suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"

 

Após um caloroso diálogo, os dirigentes da sessão tentaram doutrinar e afastar o espírito desconhecido, que desenvolvia uma fundamentada argumentação. O Sr. José de Souza, médium vidente, interpelou o espírito manifestado no jovem Zélio:

 

Quem é você que ocupa o corpo deste jovem?

 

Ao que o espírito respondeu:

 

Eu sou apenas um caboclo brasileiro.

 

O médium pergunta, então:

 

Porque o irmão fala nestes termos, pretendendo que a direção aceite a manifestação de espíritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, são claramente atrasados?

 

O espírito responde:

 

Se julgam atrasados os espíritos de pretos e índios, devo dizer que amanhã estarei na casa deste aparelho, para dar início a um culto em que estes pretos e índios poderão dar sua mensagem e, assim, cumprir a missão que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião que falará aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados.

 

O médium indaga:

 

Qual o seu nome meu irmão?

 

O espírito então responde:

 

Se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque não haverá caminhos fechados para mim. Venho trazer a Umbanda, uma religião que harmonizará as famílias e que há de perdurar até o final dos tempos.(20)

 

Sr. José, então indaga:

 

Por que fala deste modo e se identifica como caboclo, se eu vejo em você restos de vestes clericais?

 

Ao que o caboclo responde:

 

O que você vê em mim são os restos de uma existência anterior. Fui um padre jesuíta, mas em minha última existência física, Deus concedeu-me o privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.(21)

 

No desenrolar dessa “entrevista”, entre muitas outras perguntas, o médium teria perguntado se já não bastariam as religiões existentes e fez menção ao espiritismo, então praticado, e, foram essas as palavras do Caboclo das Sete Encruzilhadas:

 

Deus, em sua infinita bondade, estabeleceu na morte, o grande nivelador universal. Rico ou pobre, poderoso ou humilde, todos se tornam iguais na morte, mas vocês homens preconceituosos, não contentes em estabelecer diferenças entre os vivos, procuram levar essa mesma diferença até mesmo além da barreira da morte. Por que não podem nos visitar esses humildes trabalhadores do espaço, se apesar de não haverem sido pessoas importantes na terra, também trazem importantes mensagens do além? Por que o não aos Caboclos e Preto-Velhos? Acaso não foram eles também filhos do mesmo Deus?

 

A seguir, fez uma série de revelações sobre o destino próximo da humanidade:

 

Esse mundo de iniqüidade, mais uma vez será varrido pela dor, pela ambição do homem e pelo desrespeito às leis de Deus. As mulheres perderão a honra e a vergonha, a vil moeda comprará caracteres e o próprio homem se tornará efeminado. Uma onda de sangue varrerá a Europa e quando todos acharem que o pior já foi atingido, outra onda de sangue, muito pior que a primeira, voltará a envolver a humanidade e um único engenho militar será capaz de destruir, em segundos, milhares de pessoas. O homem será vítima de sua própria máquina de destruição. (22)

 

Prosseguindo, disse ainda o Caboclo:

 

Amanhã, na casa onde o meu aparelho mora, haverá uma mesa posta a toda e qualquer entidade que queira ou precise se manifestar, independentemente daquilo que haja sido em vida, e todos serão ouvidos e nós aprenderemos com aqueles espíritos que souberem mais, e ensinaremos àqueles que souberem menos, e a nenhum viraremos as costas e nem diremos não, pois esta é a vontade do Pai.

 

O vidente ainda perguntou:

 

Julga o irmão que alguém irá assistir a seu culto?

 

E o Caboclo respondeu:

 

Cada colina de Niterói atuará como porta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei.

 

E no final a Entidade ainda pronunciou:

 

Levarei daqui uma semente e vou plantá-la nas neves onde ela se transformará em árvore frondosa.(23)

 

Zélio de Moraes relatou o que ocorreu no dia seguinte:

 

Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sabia explicar o que se passava comigo. Surpreendia-me haver dialogado com aqueles austeros senhores de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se praticava para mim um trabalho desconhecido. Como poderia, aos dezessete anos, organizar um culto? No entanto eu mesmo falara, sem saber o que dizia e por que dizia. Era uma sensação estranha: uma força superior que me impelia a fazer e a dizer o que nem sequer passava pelo meu pensamento.

 

E, no dia seguinte em casa de minha família, na Rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, ao se aproximar a hora marcada, 20 horas, já se reuniam os membros da Federação Espírita, seguramente para comprovar a veracidade dos fatos que foram declarados na véspera, os parentes mais chegados, amigos, vizinhos e, do lado de fora, grande número de desconhecidos.

 

Às 20h manifestou-se o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Declarou que se iniciava naquele momento, um novo culto em que os espíritos dos velhos africanos, que haviam servido como escravos e que, desencarnados, não encontravam campo de ação nos remanescentes das seitas negras, já deturpadas e dirigidas quase exclusivamente para trabalhos de feitiçaria, e os índios nativos de nossa terra, poderiam trabalhar em benefício dos seus irmãos encarnados, qualquer que fosse a cor, raça, o credo e a condição social. A prática da caridade, no sentido do amor fraterno, seria a característica principal desse culto, que teria por base o Evangelho de Jesus e, como mestre supremo o Cristo.

 

O Caboclo estabeleceu as normas em que se processaria o culto: sessões diárias das 20 às 22 horas; os participantes estariam uniformizados de branco e o atendimento seria gratuito.  Deu, também, o nome desse movimento religioso que se iniciava; disse primeiro Alabanda (ou um dos presentes assim anotou), depois substituiu-o por Aumbanda, ou seja, Umbanda(24).

 

O grupo que acabara de ser fundado recebeu o nome de Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade e o Caboclo das Sete Encruzilhadas disse as seguintes palavras:

 

Assim como Maria acolhe o filho em seus braços, também a Tenda acolherá, como filhos, a todos que a ela recorrerem nas horas de aflição.

 

Ditadas as bases do culto, após responder, em latim e em alemão às perguntas dos sacerdotes ali presentes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte prática dos trabalhos, curando enfermos, fazendo andar aleijados.

 

Antes do término da sessão, manifestou-se um preto-velho. Pai Antônio, que vinha completar as curas. Era aquele mesmo espírito de fala mansa, que foi confundido como loucura de seu aparelho e com palavras de muita sabedoria e humildade e com timidez aparente, recusava-se a sentar-se junto com os presentes a mesa, dizendo as seguintes palavras:

 

Nêgo num senta não meu sinhô, nego fica aqui mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve arrespeitá.

 

Apos a insistência dos presentes ele argumenta:

 

Num carece preocupá, não. Nego fica no toco que é lugá di nêgo.

 

Assim, continuou expressando em palavras a sua humildade. Uma pessoa na reunião perguntou se ele sentia falta de alguma coisa que tinha deixado na terra e a resposta foi:

 

Minha caximba, que nêgo deixou no toco. Manda muréque buscá.

 

Tal afirmativa deixou os presentes surpresos, pois era a solicitação do primeiro elemento material de trabalho. Desse fato surgiu o primeiro ponto de Umbanda, muito cantado nos terreiros:

 

Minha cachimba tá no toco

Manda muréque buscá

Minha cachimba tá no toco

Manda muréque buscá

No alto da derrubada

Minha cachimba ficou lá

No alto da derrubada

Minha cachimba ficou lá

 

Foi Pai Antonio também a primeira entidade a solicitar uma guia, até hoje usadas pelos membros da TNSP e carinhosamente chamada de "Guia de Pai Antonio".

 

Nos dias seguintes, verdadeira romaria se formou em frente a casa da família Moraes. Enfermos, cegos, deficientes físicos, vinham em busca de cura e ali encontravam. Médiuns, cujas manifestações haviam sido consideradas loucuras, deixaram os sanatórios e deram provas de suas qualidades excepcionais.

 

Cinco anos mais tarde, ou seja, a partir de 1913 manifesta-se um espírito que dá o nome de orixá Malet exclusivamente para a cura de obsedados e o combate aos trabalhos de magia negra.

 

Esse Espírito atuava mais no terra-a-terra e trouxe consigo do espaço dois auxiliares que haviam sido malaios na última encarnação.

 

Esse Caboclo que havia sido um príncipe numa ilha oriental em sua última encarnação, manipulava com maestria, as energias sutis da Natureza, exigindo para determinados trabalhos, a calma dos campos, a altura das montanhas, o retiro das florestas ou as ondas do mar.

 

Dez anos após em 1918, o Caboclo das Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda parte de sua missão: a criação de sete tendas, que seriam o núcleo do qual se propagaria a religião da umbanda, sendo elas as seguintes: Tenda Espírita Nossa Senhora da Guia; Tenda Espírita Nossa Senhora da Conceição; Tenda Espírita Santa Barbara; Tenda Espírita São Pedro; Tenda Espírita Oxalá; Tenda Espírita São Jorge; Tenda Espírita São Jerônimo. (25)

 

Centenas de Tendas foram criadas a partir das acima mencionadas. Zélio sempre trabalhou para sustentar sua família e manter os templos que o Caboclo fundou, além das pessoas que se hospedavam em sua casa para os tratamentos espirituais que, segundo afirmam, parecia um albergue. Por ordem do guia chefe nunca aceitou ajuda financeira, por mais que lhe tivessem oferecido.

 

Ministros, industriais e militares que recorriam ao poder mediúnico de Zélio para a cura de parentes enfermos, vendo-os recuperados, procuravam retribuir o benefício com presentes, ou preenchendo cheques vultosos. "Não os aceite. Devolva-os!", ordenava sempre o Caboclo.

 

O ritual estabelecido pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas era bem simples: cânticos baixos e harmoniosos, sem utilizar atabaques e palmas, vestimenta branca e proibição de sacrifícios de animais. Capacetes, espadas, cocares, vestimentas coloridas, rendas e lamês ou quaisquer outros adereços, não eram aceitos. As guias usadas eram apenas as determinadas pela Entidade que se manifestava. Os banhos de ervas, os amacis, a concentração nos ambientes vibratórios da natureza e o ensinamento doutrinário com base no Evangelho constituíam os principais elementos de preparação do médium. A Tenda Nossa Senhora da Piedade, até hoje, mantém as tradições praticadas por Zélio de Moraes.

 

Apos 55 anos de atividade, Zélio entregou a direção dos trabalhos da Tenda N. Sª da Piedade para suas filhas Zélia e Zilméia. Mais tarde, junto com sua esposa, Maria Isabel de Moraes, médium ativa da Tenda e aparelho do Caboclo Roxo, fundaram a Cabana de Pai Antonio no distrito de Boca do Mato, município de Cachoeira do Macacu, RJ, onde dedicou a maior parte das horas de seu dia ao atendimento de portadores de enfermidades psíquicas e a todos os que o procuravam.

 

Eles dirigiram os trabalhos enquanto a saúde de Zélio permitiu. Faleceu aos 84 anos no dia 3 de outubro de 1975.

 

A Tenda Nossa Senhora da Piedade contava com um médium vidente, chamado Jurandy, com certos dotes artísticos, e que retratou em 1949, o Caboclo das Sete Encruzilhadas e Pai Antonio.

 

(20) Leal de Souza, o primeiro que escreveu sobre o Caboclo das Sete Encruzilhadas e sobre a Umbanda do Brasil (Espiritismo, Magia e as Sete Linhas de Umbanda, 1933) relatou a verdadeira versão do porquê do nome Caboclo das Sete Encruzilhadas, feito pela revelação dessa Entidade ao próprio Leal de Souza:

 

O Caboclo das Sete Encruzilhadas pertence à falange de Ogum e sob a irradiação da Virgem Maria, desempenha uma missão ordenada por Jesus. O seu ponto emblemático representa uma flecha atravessando seu coração, de baixo para cima. A flecha significa direção; o coração sentimento e o conjunto - orientação dos sentimentos para o alto, para Deus.

 

Estava esse Espírito no Espaço, no ponto de intersecção de sete caminhos, chorando sem saber o rumo que tomar, quando lhe apareceu na sua inefável doçura, Jesus, e mostrou-lhe numa região da Terra, as tragédias da dor e os dramas da paixão humana, indicou-lhe o caminho a seguir, como missionário do consolo e da redenção. E em lembrança desse incomparável minuto de sua eternidade, e para se colocar ao nível dos trabalhadores mais humildes, o mensageiro do Cristo tirou o seu nome do número dos caminhos que o desorientavam e ficou sendo o Caboclo das Sete Encruzilhadas.

 

(21) Apenas em 16 de novembro de 1919, o Caboclo das Sete Encruzilhadas revelou ao seu médium Zélio de Moraes a sua existência anterior como Frei Gabriel Malagrida.

(22) Os fatos históricos comprovam a exatidão das previsões do Caboclo das Sete Encruzilhadas. As duas guerras mundiais, as bombas atômicas lançadas sobre Hiroshima e Nagazaki, a grande degeneração dos princípios morais, o poder do dinheiro e o total desrespeito a vida humana, são provas incontestáveis do poder de clarividência do Caboclo.

(23) Ainda se comenta se o termo neves que empregou foi em sentido figurado ou se era mesmo o bairro em que o jovem e a família moravam.

(24) Muito provavelmente, ficou o nome Umbanda, e não Aumbanda, porque alguém anotou a palavra separadamente (a umbanda).

(25) O termo "espírita" foi utilizado nas tendas recém-fundadas porque naquela época não se podia registrar o nome "umbanda". Quanto aos nomes de santos, era uma maneira de estabelecer um ponto de referência para fiéis da religião católica que procuravam os préstimos da umbanda. 

https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/caboclo_das_sete_encruzilhadas.jpg

 https://img.comunidades.net/umb/umbandadobrasil/pai_antonio.jpg

 

 

 

 

 

 

 

Considerações sobre a fundação da Umbanda

A grande maioria dos umbandistas tem na primeira manifestação espiritual do Caboclo das Sete Encruzilhadas, o marco oficial da fundação da Umbanda ao ponto desta data ter sido escolhida para ser o Dia Nacional da Umbanda, todavia, não foi Zélio de Moraes o primeiro a trabalhar mediunicamente com uma Entidade afim a Corrente Astral de Umbanda, bem como, não foi o Caboclo das Sete Encruzilhadas a primeira Entidade a falar de Umbanda.

 

A própria senhora Cândida, benzedeira que atendeu o jovem Zélio, já atuava mediunicamente com o Preto Velho de nome Tio Antonio antes da manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

 

Matta e Silva relata (Umbanda e o Poder da Mediunidade, 1987)que em 1934 teve contato com um médium de nome Olímpio de Melo que praticava a linha de Santo de Umbanda há mais de 30 anos, portanto desde 1904 e que trabalhava com o Caboclo Ogum de Lei, um Preto-Velho de nome Pai Fabrício e com um Exu de nome Rompe-Mato.

 

O mesmo autor relata que conheceu também em 1935 um médium com 61 anos de idade, de nome Nicanor, que afirmava orgulhosamente que desde os 16 anos já recebia o Caboclo Cobra Coral e o Pai Jacob, e que desde o princípio as suas sessões era no giradô da linha branca de Umbanda, ou seja, desde 1890.

 

Através da mediunidade de alguns médiuns selecionados pelo Astral Superior, muitas outras Entidades surgiram, nos quatro cantos do país, como pontas-de-lança e logo começaram a falar de Umbanda, entretanto esses primeiros vanguardeiros que receberam a tarefa de lançarem as primeiras sementes da Umbanda, não foram registrados oficialmente.

 

Entre eles, destacamos o Caboclo Curuguçu, que, segundo Leal de Souza(26), foi quem trabalhou preparando o advento da Entidade que veio a se identificar como o Caboclo das Sete Encruzilhadas, através do médium Zélio de Moraes.

 

Essa Entidade apresentou-se durante alguns anos, coordenando o trabalho de vários outros colaboradores espirituais que traziam a mesma mensagem. Além de anunciar a chegada da Umbanda, o Caboclo Curuguçu dizia ser emissário da raça vermelha pura.  Curuguçu significa “O Grito do Guardião”.

 

O ponto cantado do Caboclo Curuguçu define claramente a amplitude de sua missão:

 

Ponto do Caboclo Curuguçu

Eu vem lá de Aruanda
Trazendo a Luz, a Luz da Umbanda
Eu vem com o clarim de Ogum
Anunciar que a Umbanda vai chegar

Eu é Caboclo de Umbanda
Eu vem do Cruzeiro do Sul
Eu é Caboclo Curuguçu

Meu grito já ecoou
É a Umbanda que chegou
Meu grito já ecoou
Pai Oxalá quem me mandou
Eu é Curuguçu
Da corrente de Ogum
Que aqui chegou

 

Em entrevista publicada no Jornal de Umbanda, em outubro de 1952, Leal de Souza relatou:

 

A Linha Branca de Umbanda é realmente a Religião Nacional do Brasil, pois que, através de seus ritos, os espíritos ancestrais, os pais da raça, orientam e conduzem suas descendências. O precursor(27) da Linha Branca foi o Caboclo Curuguçu, que trabalhou até o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas que a organizou, isto é, que foi incumbido pelos guias superiores, que regem o nosso ciclo psíquico, de realizar na terra a concepção do Espaço.

 

Lamentavelmente Leal de Souza não deixou os detalhes por escrito de como, por onde e através de quem esse Caboclo Curuguçu trabalhou preparando a descida do senhor Sete Encruzilhadas.

 

Com relação à manifestação do Caboclo das Sete Encruzilhadas, a veracidade dos fatos narrados exaustivamente por vários autores, entra em conflito com a declaração pública feita por Yeda Peres Hungria, atual Diretora de Assistência e Orientação da Federação Espírita do Estado do Rio de Janeiro (FEERJ), atual Instituto Espírita Bezerra de Menezes.(28)

 

Segundo a Diretora, a Federação não dispunha de sede própria à época dos acontecimentos relativos à visita de Zélio de Moraes, mas tão somente ocupava uma sala no Centro de Niterói, na Rua da Conceição nº 33(29), sendo impossível, portanto, que o Zélio tenha saído rapidamente da sala, buscado uma flor e colocado sobre a mesa de reunião.

 

Contudo, existe a possibilidade de que o jovem Zélio tenha sido levado para algum Centro filiado à Federação de Niterói e, devido à repetição da história tradicional, o nome da casa tenha se perdido.

 

A Ata nº 1 da Federação relata que o presidente à época era o Sr. Eugênio Olímpio de Souza. Também não consta o nome de nenhum José de Souza entre os membros da diretoria e tampouco na relação de associados. Também não consta no referido livro de atas a realização de reunião no dia 15 de novembro de 1908. É importante ressaltar, entretanto, que por uma estranha coincidência, o sobrenome do presidente da Federação era o mesmo do citado na tradição oral.

 

Segundo Yeda Hungria, na época, a instituição já realizava sessões espíritas em suas dependências. Todavia, estas reuniões não geravam atas. Portanto, não há como afirmar se houve sessão naquele dia.

 

Quanto a registros de distúrbio provocado por espíritos “indesejados”, não haveria também motivo para serem realizados, uma vez que a manifestação desses espíritos e a conseqüente doutrinação era prática usual na mesa kardecista. Portanto, seria lógico supor que a manifestação de um caboclo na sessão espírita passaria despercebida, porque era comum a manifestação de espíritos tidos como “atrasados” nas sessões. Porém, não seria comum a manifestação de um caboclo anunciando a criação de uma nova religião, a menos que ninguém tenha levado a sério.

(26) Leal de Souza, poeta, escritor e jornalista foi dirigente da Tenda Nossa Senhora da Conceição, considerada por José Alvares Pessoa, fundador da Tenda São Jerônimo, uma das tendas mestras.

(27) Aquele que vem adiante de alguém anunciar a sua chegada; que antecipa, sinaliza ou dá início a novos conceitos, situação, comportamentos, movimentos, etc.

(28) Estas questões foram levantadas por José Henrique Motta de Oliveira, Mestre em História Comparada (UFRJ/PPGHC), através da publicação do artigo “Eis que o Caboclo veio à Terra anunciar a Umbanda”, escrito para o V Simpósio de História Comparada da UFRJ.

(29) Vide histórico da instituição no site: http://www.iebm.org.br/historico.htm

 

A Mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas

Em 1971, a senhora Lilia Ribeiro, diretora da Tenda de Umbanda Luz, Esperança, Fraternidade (TULEF) gravou uma mensagem do Caboclo das Sete Encruzilhadas, que espelha bem a humildade e o alto grau de evolução dessa entidade de luz:

 

A umbanda tem progredido e vai progredir ainda mais. É preciso haver sinceridade, honestidade. Eu previno sempre aos companheiros de muitos anos: a vil moeda vai prejudicar a umbanda; médiuns irão se vender e serão expulsos mais tarde, como Jesus expulsou os vendilhões do templo.

 

O perigo do médium homem é a consulente mulher; do médium mulher, é o consulente homem. É preciso estar sempre de prevenção, porque os próprios obsessores que procuram atacar as nossas casas fazem com que toque alguma coisa no coração da mulher que fala ao pai de terreiro, como no coração do homem que fala à mãe de terreiro. É preciso haver muita moral para que a umbanda progrida, seja forte e coesa. Umbanda é humildade, amor e caridade - essa é a nossa bandeira.

 

Neste momento, meus irmãos, me rodeiam diversos espíritos que trabalham na umbanda do Brasil: caboclos de Oxossi, de Ogum, de Xangô. Eu, porém, sou da falange de Oxossi, meu pai, e não vim por acaso, trouxe uma ordem, uma missão.

 

Meus irmãos, sede humildes, tende amor no coração, amor de irmão para irmão, porque vossas mediunidades ficarão mais puras, servindo aos espíritos superiores que venham trabalhar entre vós. É preciso que os aparelhos estejam sempre limpos, os instrumentos afinados com as virtudes que Jesus pregou na Terra, para que tenhamos boas comunicações e proteção para aqueles que vêm em busca de socorro nas casas de umbanda.

 

Meus irmãos, meu aparelho já está velho, com 80 anos a fazer, mas começou antes dos dezoito. Posso dizer que o ajudei a se casar, para que não estivesse a dar cabeçadas, para que fosse um médium aproveitável e que, pela sua mediunidade, eu pudesse implantar a nossa umbanda. A maior parte dos que trabalham na umbanda, se não passaram por esta Tenda, passaram pelas que saíram desta casa.

 

Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humildade de uma manjedoura, não foi por acaso; assim o Pai determinou. Podia ter procurado a casa de um potentado da época, mas foi escolher naquela que poderia ser sua mãe um espírito excelso, amoroso e abnegado. Que o nascimento de Jesus e a humildade que Ele demonstrou na Terra sirvam de exemplo a todos, iluminando os vossos espíritos, extraindo a maldade dos pensamentos ou das práticas.

 

Que Deus perdoe as maldades que possam ter sido pensadas, para que a paz reine em vossos corações e nos vossos lares. Fechai os olhos para a casa do vizinho; fechai a boca para não murmurar contra quem quer que seja; não julgueis para não serdes julgados; acreditai em Deus e a paz entrará em vosso lar. É dos Evangelhos.

 

Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, porém amigo de todos, numa comunhão perfeita com companheiros que me rodeiam neste momento, peço que eles observem a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados, e a saúde para sempre em vossa matéria.

 

Com um voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e sempre serei o humilde

 Caboclo das Sete Encruzilhadas.

 

A verdadeira Guardiã dos Sagrados Mistérios da Cruz e o significado da palavra umbanda

Conforme já citamos, foi imperiosa a manifestação da Corrente Astral de Umbanda, através de seus Guias e Protetores, por dentro dessa massa de crentes cujo alcance mental ainda se conservava preso ao atavismo milenar.

 

Essa imensa coletividade vinha calcando a sua mística e as suas práticas segundo a herança deixada pela pajelança, prática degenerada das sub-raças indígenas, mas, principalmente, pela linha africanista, ou melhor, pelas sub-condições decorrentes da degeneração do culto africano puro (que nem puro mesmo chegou ao Brasil, através dos escravos) e ainda deturpada com a influência de outros cultos dos santos católicos.

 

A misericórdia divina houve por bem socorrer essas ovelhas do grande rebanho do Pai, porque essa coletividade está ligada ao carma da raça, aos elos da Tradição e da corrente genuinamente ameríndia que, no astral é guardiã dos “sagrados mistérios da cruz”, corrente essa, nascida, criada e vibrada pelo Cruzeiro do Sul – o Signo Cosmogônico da Hierarquia Crística.

 

A partir daí nasceram as primeiras providências de ordem direta, quando surgiram as primeiras manifestações dos caboclos, para depois “puxarem” as dos pretos-velhos, visto ter havido necessariamente uma adaptação mais pendente para o dito africanismo do que para o indígena.

 

Na Corrente Astral de Umbanda identificamos a ancestralidade do Brasil e da sua original religião, como a verdadeira Guardiã dos Sagrados Mistérios da Cruz, ligada àquela mesma corrente de Altos Mentores Astrais, que expressa e relaciona o mesmo Tuyabaé-cuaá – a sabedoria do Velho Sumé ou dos antiqüíssimos payé.

 

Devemos notar que 5 são as Vibrações de Caboclos, 1 de Preto Velho e 1 de Criança. Portanto, a supremacia do núcleo vibratório genuinamente ameríndio se impôs, pois a linha mestra saiu daqui, do Brasil, não veio de lá.

 

Os rituais de nação que os escravos negros fizeram ressurgir no Brasil mereceram vasta observação e estudo de muitos pesquisadores(30).

 

Embora o excelente trabalho de pesquisa em suas obras, pois todos eles registraram o que encontraram no que se refere a conceitos místicos e os termos sagrados com seus significados, nenhum desses pesquisadores, antropólogos, etnólogos, etc. registraram o termo Umbanda e nem mesmo o de Quimbanda ou Kimbanda.

 

Vale ressaltar também que nenhum culto, seita, ritual, ou seja, nenhum sistema religioso foi conhecido ou praticado com a denominação de Umbanda em terras africanas, como Angola, Moçambique ou ainda Catembe ou Magude, consideradas como a Meca do curandeirismo africano.

 

Portanto, ao contrário do que defendem certos escritores afeiçoados ao africanismo, a Umbanda não teve origem na África.

 

O termo Umbanda perdeu o seu significado real nas chamadas línguas mortas, todavia, a raça africana, por intermédio de seus sacerdotes iniciados, guardou mais ou menos sua origem e valor. Porém com o transcorrer dos séculos, foram dominados, e seus ancestrais que guardavam a chave-mestra desse vocábulo Trino desapareceram, deixando uma parte velada e outra alterada, para seus descendentes que, na maioria, só aferiram o sentido mitológico, perdendo o pouco que lhes fora legado.

 

A palavra UMBANDA implantada para servir de bandeira a esse novo movimento, identifica a força e os direitos de trabalho dessa poderosa Corrente, que assim passou a se denominar Corrente Astral de Umbanda.

 

A Umbanda representa as Leis de Deus, pela palavra do Cristo Jesus – o Regente de nosso planeta Terra.

 

Umbanda é um termo litúrgico, sagrado, vibrado, que significa, num sentido mais profundo – CONJUNTO DAS LEIS DE DEUS, porque tem por escopo, dentro do meio Umbandista, implantar no coração de seus filhos de fé essas citadas leis.

 

A Umbanda tem como vértice de sua razão de ser, desde eras primitivas, a exteriorização periódica ou por ciclos. Ressurgiu na atualidade, assim como fizera no passado entre os Atlantes, os Maias, os Quíchuas, os tupy-guarany e os Tupy-nambá da época pré-cabraliana, bem como, há milênios, no antigo apogeu da raça Africana, que conservou dentro da tradição oral até nossos dias, farrapos desta Doutrina.

 

É a primitiva síntese relígio-científica, cujas derivações podem ser identificadas nos diferentes sistemas religiosos (pelo aspecto esotérico) de todas as raças.

 

A palavra Umbanda não foi criada pelos humanos, foi relevada por esses espíritos de Caboclos e Pretos-Velhos, primeiro, através de certos pontos cantados, para firmar, com a força mágica de seus sons(31) ou sílabas, certas correntes vibratórias e mesmo, para servir de Bandeira a esse Movimento. E logo foi sentida a magia que ela despertava nos filhos dos “terreiros”.

 

Porém, há mais um significado profundo nesse vocábulo: a palavra Umbanda representa ou simboliza a “chave” de antiqüíssimas iniciações ou ordens. É a única chave, atualmente, que abre “portas” aos verdadeiros conhecimentos da perdida Lei do Verbo.

 

Essa Lei é representada por sinais cabalísticos, de força mágica, tradutores de sons divinos – esses que dominam os elementares. Hoje, nenhuma corrente usa esses sinais, mesmo esotericamente. Conservaram apenas os símbolos simples, dados na Cabala - o círculo, o triângulo, a cruz, etc., assim mesmo com os respectivos significados esotéricos comuns. As suas posições astrológicas e correspondentes sons se perderam. Porém, na Umbanda, eles existem e são usados na forma real de seus movimentos. Além disso, é a única corrente que usa outros sinais, completamente desconhecidos nas outras correntes, chamados de lei de pemba, riscados por nossas Entidades protetoras.

 

Então, o termo UM-BAN-DA, contendo em si um sentido tríplice-oculto, traduz, de acordo com a Lei do Verbo, o seguinte: Conjunto de Leis de Deus.

 

Em linhas gerais, portanto, Umbanda representa as Leis Eternas que atuam na coletividade umbandista, a afim de regular e impulsionar a sua ascensão, tudo sob a guarda direta dos espíritos escolhidos para esse mister: os chamados de caboclos, pretos-velhos e crianças, também.

(30) Podemos citar Nina Rodrigues (Os Africanos no Brasil, 1894 e L’Ânimisme Fetichiste des Negres de Bahia, 1900), João do Rio (As Religiões no Rio, 1904), Manoel Quirino (A Raça Africana e seus Costumes na Bahia, 1917), Donald Pierson (Brancos e Negros na Bahia, 1935), Roger Bastide (Imagens do Nordeste Místico, 1945) e outros.

(31) o termo Umbanda é um mantra.

 

Panorama Umbandista

Por ser sincrética em sua formação, do ponto de vista histórico, a umbanda se apresenta sob diversas formas ritualísticas e, ao contrário da opinião de outros religiosos, isso não a enfraquece doutrinariamente e não a deixa menor do que qualquer culto ou doutrina mediúnica.  Lembremos que a diversidade é da natureza universal, pois nada é igual no Cosmo, nem mesmo as folhas de uma única árvore.

 

Desta forma, a Umbanda se apresenta como a mais universalista e convergente das religiões existentes no orbe e isso contribui para que ela exerça uma atração quase irresistível para o povo.

 

Nela os fenômenos da mediunidade surgiram como uma espécie de alavanca que sustenta e movimenta os terreiros, exercendo uma espécie de “força misteriosa” que atrai e agrada as pessoas de todos os entendimentos.

 

A Umbanda é uma Religião genuinamente popular, e isto se dá por vários fatores importantes:

 

A)   Pela absoluta tolerância e ausência de qualquer preconceito de cor ou de raça, pois não se pergunta ao necessitado de onde vem ou a que religião pertence etc.,

 

B)   Pela riqueza de sua liturgia, isto é, pela variedade de seus rituais, onde cada um se identifica, segundo seus graus de afinidade.

 

C)   Pela manifestação dos fenômenos da mediunidade, a par com a fama que corre sobre tal e qual terreiro.

 

D)   Pelos aspectos mágicos, isto é, pela terapêutica astral com suas defumações, seus banhos, etc.

 

A Umbanda tem magia. Suas verdadeiras entidades sabem usar o segredo mágico dessa força. Eles são magos.

 

Matta e Silva dividiu em três classes, o panorama umbandista:

 

PRIMEIRA CLASSE

A primeira classe é a que engloba o maior número de terreiros. É construída pelos seres humanos, onde cada um faz seu ritual, segundo o seu entendimento sobre Umbanda, baseado no que viu e ouviu em outros terreiros similares, onde predomina o sincretismo afro-católico.

 

Esses ambientes dão muito trabalho de fiscalização astral, de cima, devido ao seu volume, quantitativo e qualitativo, práticas de grosseiras oferendas e, principalmente, de riscar pembas, por impulsos, desconhecendo completamente a expressão mágica dos verdadeiros sinais riscados, causando assim, plena confusão na corrente mental e astral que se forma por força de tudo isso, envolvendo e atraindo forças do astral inferior, que passam então a dominá-los, visto eles não terem o conhecimento certo dessas coisas.

 

Nesses agrupamentos, a doutrina é quase inexistente, ignoram o Evangelho; mas o incremento da luz prossegue, por baixo e por cima, firme e serenamente, enquanto eles se ocupam mais em tocar seus tambores e bater suas palmas.

 

SEGUNDA CLASSE

A segunda classe vem com menor volume de agrupamentos e se prende àqueles que são mais elevados, mais simples; desejam praticar Umbanda, pautada nos ensinamentos evangélicos, no que eles revelam de mais necessário. Para isso, apelam para a corrente dos Caboclos e Pretos-Velhos, a fim de ajudá-los nesse mister.

 

Fazem um ritual suave, sem palavras, sem tambores. Aproveitam a força e a beleza de certos pontos cantados ou hinos, que sabem serem de raiz.

 

Esse é um dos aspectos aprovados pelo astral, dada a sinceridade de propósitos, desde que não saiam da faixa religiosa, doutrinária e mesmo de certa cautela com o lado fenomênico. Assim, com paciência, o astral tenta localizar algum aparelho mediúnico e, por ele, fazer positivas incorporações para estabelecer os Princípios ou Regras da Umbanda na teoria e na prática.

 

Nessa segunda classe, mesmo dentro da sinceridade, dos bons propósitos, contando até com filhos estudiosos, muitos egressos de outras correntes e religiões, são inúmeros os filhos que de repente se empolgam e fogem do âmbito religioso, doutrinário, começando também a praticar certos atos que pretendem ser de magia, por conta própria.

 

Porém, se eles não estão ordenados e capacitados para tal fim, se não têm o conhecimento que o assunto requer e ainda sem o beneplácito ou a garantia dos Guias e Protetores, para isso, são logo envolvidos pelas forças relacionadas e invocadas que, não encontrando elementos de garantia neles, tomam o campo, incentivam-lhes a vaidade latente, dessa ou daquela forma, atacado um ponto fraco qualquer.

 

Em pouco tempo esses bons filhos criam o seu “cascãozinho”, que enrijece tanto, a ponto de vedar seu consciente à luz da humildade imprescindível ao bom umbandista.

 

TERCEIRA CLASSE

A terceira classe, com uma quantidade mínima de agrupamento, é a que se identifica com Ordens e Direitos de Trabalho. Isso acontece quando o astral tem ordem para agir sobre um legítimo médium. Aí, imediatamente estabelecem esses citados Princípios ou Regras da Umbanda, a par com a caridade que se vai praticando. Essa é a única classe capacitada a movimentar a terapêutica natural e astral, dentro da magia positiva, sempre para o bem comum e que se firma nos verdadeiros sinais riscados classificados como Lei de Pemba.

 

O contato dos Guias e Protetores com esses médiuns e aparelhos-positivos não se dá por via incorporativa, mas também via intuição, audição, vidência e mediunidade sensitiva.

 

E a terceira classe, também dá trabalho. Muitos, dentro das prerrogativas do livre-arbítrio, também se extraviam. E como já citado das condições negativas que existem, na primeira e segunda classe, nessa terceira classe, acontecem também graves fracassos, com esses aparelhos que recebem Ordens e Direitos de Trabalho.

 

Esses médiuns quando baqueiam, quase sempre acontece por causas morais. Todavia, não confundir esse caso de médiuns fracassados, com os daqueles que tombam, exaustos pelo entrechoque das lutas astrais e humanas, em defesa de um ideal – numa missão de esclarecimento e de verdade.

 

Esses são amparados, jamais abandonados e curados de suas cicatrizes, para se reerguerem mais fortes do que dantes. Recebem o prêmio pelo esforço despendido, enfim, por todos os sofrimentos que passaram pelas traições e infâmias que perdoaram, quando lhes é dada a verdadeira Iniciação pelo astral e lhes confere o sinal, pelo selo dos Magos que surge na palma de suas mãos, a demonstrar-lhes que, de fato, “somente a verdade ficará de pé”.

 

 A missão da Umbanda

Se processa nos céus vibrados pelo Cruzeiro do Sul, neste Brasil, um tremendo Movimento de Forças Espirituais. Esse tremendo Movimento de Hierarquias, através de seus Mensageiros, prepara condições adequadas no astral de nosso planeta, limpando e retirando os elementos nocivos: os espíritos bestializados, os egoístas, os avarentos, os viciados etc., que estão infeccionando as condições astrais e humanas neste fim de ciclo.

 

Isso está ocorrendo neste fim de ciclo porque, realmente, O CRISTO PLANETÁRIO vai descer, vai reencarnar-se e desta vez no BRASIL, nestas terras que estão sob a vibração do Cruzeiro do Sul.

 

E é a Corrente Astral de Umbanda que está preparando toda esta limpeza, diretamente, em uma possante ação de ampla envergadura, que envolve todos os Seres desencarnados e encarnados.

 

Todos os céus que vibram sobre o Cruzeiro do Sul estão cruzados e inteiramente guardados pelos quatro pontos cardeais, por legiões de espíritos de Caboclos, Pretos-Velhos, etc.

 

Tudo o que se pode entender como baixo astral já está cercado pela Polícia de Choque da Corrente Astral de Umbanda.

 

Nenhum movimento espiritual, religioso, espirítico, mediúnico etc., sério, está se processando atualmente, por estes brasis afora, sem a escora da Corrente Astral de Umbanda.

 

Seja qual for a Corrente Benfeitora que esteja formada, por trás dela estão os espíritos da Corrente Astral de Umbanda, guardando-a, fiscalizando-a. Poderosas falanges de Pretos-Velhos, Caboclos etc., somente aguardam a ordem de imediata execução.

 

Porque, em relação direta com o Brasil, a Corrente Astral de Umbanda, uma das mais fortes integrantes do GOVERNO OCULTO DO MUNDO, também recebeu a incumbência de agir no sentido de preparar as ditas condições para a descida do Cristo Planetário.

 

Já afirmavam, há muitos anos, os nossos Pretos-Velhos:

 

“do escurecer deste fim de tempo (deste ciclo),

ao clarear do outro, Pai Oxalá vem à Terra”...

 

É preciso, é necessário sabermos que isto tem que acontecer. Estamos às vésperas de tremendas agitações e reformas sociais, religiosas etc. Estamos às vésperas da fome, de epidemias e de uma convulsão vermelha, isto é, o sangue regará a terra, a ambição escurecerá ainda mais as consciências, e o egoísmo do homem cavará seu próprio túmulo.

 

Tal é o estado de endurecimento das consciências, que jamais se viu tanta riqueza e tanta miséria... um paradoxo.  Nunca se viu valer tanto o sexo, o sensualismo, a luxúria e o dinheiro como agora. Nem nos tempos de Nero com suas bacanais... Nunca se viu imperar tanto a magia negra para fins sexuais como agora.

 

Desvirtuaram tanto os puros sentimentos da mulher, que hoje em dia, ela se preocupa mais em ostentar o corpo do que com as coisas do próprio lar... e o homem passou a vê-la mais com os olhos dos instintos, do que com os olhos do coração. Infelizmente.

 

E é por tudo isso que surgem os médiuns, os missionários, instrutores, tudo de acordo com as condições de suas correntes afins, cada um cumprindo a sua parte, contribuindo para que as verdades sejam ditas, todos a seu modo, para que se cumpra a Lei de Evolução dos Seres.

 

A Umbanda e o Evangelho do Cristo

Dentro desse poderoso movimento religioso chamado Umbanda, existe o lado interno ou oculto, que são os seus aspectos filosófico, mágico, astrológico, terapêutico, fenomênico, etc., contudo, a par desses aspectos temos o lado puramente religioso.

 

O trabalho das Entidades na Umbanda consiste em fazer-nos compreender, progressivamente, as leis do Pai-Eterno, nos conduzindo a Deus Uno, através de Jesus, o nosso Oxalá.

 

Não se pode falar sobre o conteúdo da Umbanda, sem relembrar o conceito simples quanto aos Evangelhos, Jesus e Deus-Pai, em face dessa mesma Umbanda.

 

As Entidades da Umbanda dão, como “pão de cada dia”, a mesma doutrina, os mesmos princípios morais que norteiam os Evangelhos do Cristo. E para que se ensine a pura doutrina de Jesus, não é imprescindível que se tenham na mão os livros atribuídos a Ele, citando trecho por trecho, capítulo por capítulo.

 

Sabemos que esses Evangelhos, escritos por terceiros, ou seja, segundo Marcos, Matheus, Lucas, etc., surgiram dezenas de anos após a passagem do Cristo pelo planeta Terra e estão cheios de contradições, interpolações e mesmo de adaptações segundo as conveniências religiosas da época e das que sucederam. No entanto, as Entidades de Umbanda respeitam e pregam o respeito aos citados Evangelhos, embora prefiram ensinar deles aquelas regras ou princípios morais espirituais que realmente traduzem a Palavra do Cristo, porque foram estabelecidos ou ensinados por Ele mesmo, nas primitivas fontes iniciáticas, religiosas, sacerdotais, etc.

 

Sempre existiram, enfim, nas antiqüíssimas “Academias” ou ditos como “Colégios de Deus”, praticamente caídos no esquecimento pelos véus da História ou mesmo da chamada tradição iniciática.

 

Em suma: os preceitos fundamentais do Cristo Jesus, que são as leis eternas de Deus-Pai, já tinham sido implantados e podem ser até identificados, em sua essência ou natureza, nos ensinamentos contidos nas obras sagrados de vários povos ou raças, milhares de milhares de anos antes que surgissem os Evangelhos e mesmo a Bíblia.

 

A doutrina de Jesus, tão antiga quanto as Eternas Verdades, jamais foi privilégio ou monopólio de uma religião ou de uma raça. Ela sempre foi relevada, em todos os tempos, de todos os modos, pois é infantil conceber-se que, somente há 2.000 anos, essa doutrina tivesse surgido, com o meigo Jesus, que teve o cuidado de afirmar não vir ab-rogar a Lei, e sim, confirmá-la...

 

E ainda disse mais:

 

“a minha doutrina não é minha,

mas Daquele que me enviou”

                                                              (João, VII,16).

 

Dos Evangelhos, então, segundo aqueles que os escreveram e que deram margem a tantas dúvidas ou interpretações quanto ao sentido ou autenticidade disso ou daquilo, surgindo até cisões, é inegável, é incontestável a moral crística. Não seria necessário repisarem tanto esses Evangelhos, se todos quisessem abrigar lentamente em seu coração o

 

"amai-vos uns aos outros tanto quanto eu vos amei"...

 

Nisso está contida a suprema-moral e o verdadeiro caminho. Todavia é recomendável que lembremos da beleza espiritual e a sublime humildade do Sermão da Montanha e sobre o qual todos os umbandistas sinceros precisam meditar. Ei-lo:

 

"Bem-aventurados os pobres de espírito,

porque deles é o reino dos Céus;

Bem aventurados os que choram,

porque eles serão consolados;

Bem aventurados os mansos,

porque eles herdarão a terra;

Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça,

porque eles alcançarão misericórdia;

Bem-aventurados os limpos de coração,

porque eles verão a Deus;

Bem-aventurados os pacificadores,

porque eles serão chamados de filhos de Deus;

Bem-aventurados os que sofrem perseguição,

por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus;

Bem-aventurados sois vós,

quando vos injuriarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo mal

contra vós, por minha causa”

(Matheus, 5,6,7).

 

E ainda:

 

"Não façais a outrem aquilo que não quereis que vos façam...",

"Perdoai 70 vezes 7",

"Fora da Caridade, não há salvação".

 

Isso é a essência fundamental de tudo. É o bastante. Encerra o todo. Quanto ao mais, são variações. E são esses preceitos morais-espirituais, que os Guias e Protetores esses "caboclos e pretos-velhos", vêm ensinando, nas adaptações simples e diretas, criando imagens e exemplos que possam ser impressos vivamente na mentalidade dos que ainda custam a absorver até o sentido simples da letra, quanto mais o sentido oculto ou profundo.

 

O Astral Superior nos aconselha a fugir, tanto quanto possível, dessa repetição, incessante, quase mecânica, incisiva, comumente empregada por aqueles que pregam e doutrinam.

 

Muitos o fazem, quase sempre, de forma contundente, como a exigir que a natureza espiritual dos indivíduos dê saltos repentinos no entendimento. Não! A maioria das criaturas está situada em certos graus de entendimento ou de alcance, cuja fórmula absorvível de doutriná-la tem que sair de um "figurino". Tem que haver uma introdução, uma adaptação, que dependerá de um trabalho psicológico a ser feito com muita paciência e tolerância.

 

E é assim, que fazem os espíritos que militam na Umbanda, procurando introduzir, de mil formas, esses princípios essenciais na mentalidade de nossos "filhos de terreiro", sempre que temos oportunidade, sob a forma de um conselho, de uma advertência, de um exemplo qualquer etc.

 

Quando essa coletividade umbandista atingir certa maturidade espiritual, por certo que os Evangelhos, assim como outras obras, serão comentados sem os véus e sem as humanas interpretações.

 

Realmente, esses são os preceitos evangélicos que enfeixam tudo. Fora deles não há salvação, porque apontam o caminho da evolução, pela compreensão das leis do Pai, por intermédio de Jesus – o Oxalá de nossa Umbanda.

 

Jesus no conceito da Umbanda

 

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Regente Superior Cármico da Humanidade, ou seja, de todos os seres encarnados e desencarnados, que têm no planeta Terra seu “campo experimental”, evolutivo.

 

Está em Suas divinas mãos o leme do destino dessa mesma Humanidade. Para isso, Ele veio relevar essa Regência, diretamente, quando, há mais de 2.000 anos, se fez identificar como Jesus, testemunhando pelo sacrifício da cruz, toda sublimidade, toda renúncia, todo amor do Grau Crístico que Lhe é próprio.

 

Existem, tantas interpretações sobre a individualidade do Cristo-Jesus, quantos são os entendimentos nas Escolas filosóficas e nas Religiões.

 

De um lado se diz que o Cristo se apresentou na Terra, em corpo fluídico; de outro, que encarnou mesmo, num corpo físico (o de Jesus – filho de Maria); de mais outro, que o Jesus era, apenas, o médium do Cristo, assim como outros Profetas, no passado; de mais outro lado ainda, se afirma que Ele sempre reencarnou nos diferentes ciclos cármicos de uma raça ou de outra, a fim de relembrar a Lei do Pai, de vez em quando completamente postergada. E ainda se diz, também, que Jesus teve carma evolutivo, igual ao nosso, passando por todas as experiências as quais nós vamos passando, até quando atingiu o seu grau Crístico (ou cristófilo). Também se prega que Ele é o filho único, exclusivo, do Pai-Eterno como se o Pai o “criasse” como uma exceção suprema, sobre todos os demais Seres Espirituais.

 

No entanto, o Cristo, identificado como Jesus – filho de Maria, jamais teve carma-evolutivo ou condicionado, conforma o nosso, que está ligado à Natureza, à roda das sucessivas encarnações.

 

Vamos entender isso melhor...

 

Existem Duas Linhas de Ascensão ou de Evolução para os Espíritos. Uma, independe de matéria (ou energia-massa). Esta é a Linha de Evolução Original. Tem sua ação nas regiões do espaço cósmico (infinito e ilimitado), vazio de galáxias, de sistemas planetários, ou corpos celestes, porque, lá, nessas regiões, não existe energia, ou seja,  nem uma só partícula de energia tem penetração.

 

Nestas regiões, os Seres espirituais seguem a sua linha de evolução, dentro de um ritmo próprio, com aspectos diferentes desse carma-humano.

 

Lá só habita uma Realidade e essa, são os Seres Espirituais, isto é, os Espíritos, em suas próprias condições de pureza, ou seja, completamente isentos de quaisquer veículos formados por essa dita energia cósmica.

 

Habitam, porque é onde têm sua Linha de Ascensão Original ou seu Reino Virginal. Aí, não existem veículos físicos nem astrais ou fluídicos. No entanto, num certo instante-luz da eternidade, resolveram descer a essas regiões, onde a natureza cria formas e revela qualidades – o Reino Natural ou Universo Astral – a segunda Linha de Evolução.

 

Essa segunda Linha de Evolução ou de Ascensão depende de matéria ou de energia-massa, isto é, de galáxias, de sistemas planetários, etc.

 

Todos os espíritos que formaram essa humanidade (encarnados e desencarnados) desceram, de livre vontade, à essa zona eletromagnética, onde, depois, se formou o atual planeta Terra.

 

Fizeram assim, usando do livre-arbítrio, que foi a percepção própria de suas consciências, reveladas por Deus, que permitiu essa descida, em virtude de, dentro de sua infinita perfeição, jamais cercear a livre manifestação da vontade, que traduz afinidades virginais dos Seres espirituais.

 

Desta forma, descemos da primeira Linha para a segunda.

 

O Cristo-Jesus, é claro, também veio da primeira porém, já com o seu grau Crístico, de sua Hierarquia. Ele foi o enviado pelo Pai-Eterno, para socorrer e guiar a nossa Humanidade – essa mesma formada pelas legiões de espíritos que no princípio das coisas (antes de se formar o planeta Terra), desceram, espontaneamente, a essa zona cósmica, onde matéria ou energia massa tem domínio.

 

Vendo a Sabedoria Divina que essas legiões de espíritos – que somos nós, encarnados e desencarnados de agora – tinham descido e já estavam envolvidas pela poeira atômica, já sujeitas a seus turbilhões, próprios de sua natureza, já enfrentando novas condições, devido a esse contato e condições essas que desconheciam ou ignoravam antes, constatou assim que se debatiam num caos, tal a confusão que o dinamismo de suas próprias vibrações espirituais causaram por acréscimo nessa dita natureza, que hoje em dia é chamada pela ciência da Física, de energia-massa ou matéria.

 

Era mesmo o caos – o princípio de que nos fala a Bíblia. E foi em conseqüência disso tudo que a Sabedoria Divina ou Deus-UNO enviou, da Hierarquia Crística ou Planetária, vários ESPÍRITOS PUROS a fim de reajustar essas legiões de espíritos, que se debatiam às cegas, dentro dessa nova condição, nesse caos, que seria, como foi e é, um novo “campo experimental”, bem como, pela necessidade que surgiu de reorganizá-las (a essas legiões), ainda dentro de um novo carma.

 

Dentre esses Espíritos Puros se encontrava o Cristo-Jesus, nosso Regente máximo, nesse 5º Ciclo Cármico(32) conforme citado.

 

Nesse Ciclo se darão profundas transformações nessa Humanidade, sob todos os aspectos.

 

Quando essa atual Humanidade estiver no meio desse 5º Ciclo, daqui a milhares e milhares de anos, estará em tal estado de adiantamento espiritual que as concepções de hoje, as mais profundas é claro, lhe parecerão infantis.

 

Como exemplo de relação, fica sabendo que existem planetas habitados por Seres Espirituais em tal estado de adiantamento, em tal grau de evolução que, para eles, as nossas mais altas aquisições filosóficas, científicas, religiosas, sociais, etc., são etapas superadas há milhões de anos e que a lembrança disso tudo apenas consta em seus arquivos astrais.

 

É preciso considerarmos como justa verdade, já firmada por entidades luminares de outras correntes, que o nosso planeta Terra, isto é, sua Humanidade, é uma das mais atrasadas, sob todos os aspectos, dentro desse ilimitado panorama cósmico espiritual.

 

Então, de acordo com tudo o que foi dito, é fácil compreender por que, na Umbanda, JESUS – o nosso meigo Oxalá, é considerado como o Deus do planeta Terra.

 

Todas as Entidades, trabalhadores espirituais de sua seara, não importa sob que forma ou aspecto, trabalham, incansavelmente, para implantar suas leis, sua doutrina no coração dos filhos-de-fé.



(32) Segundo várias Escolas iniciáticas, estamos entrando nesse 5º Ciclo

 

Fontes Bibliográficas:

COSTA, Ivan Horacio (Itaoman). Pemba - A Grafia Sagrada dos Orixás. Brasília:Thesaurus, 1990.

MAGARINOS, Domingos (Epiága R..) Amerríqua – As origens da América. São Paulo: Madras, 2006

MAGARINOS, Domingos (Epiága R..) Muito Antes de 1500. São Paulo: Madras, 2005

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani). Doutrina Secreta da Umbanda: Revelações Mediúnicas X Fatores Cabalísticos–Científicos–Metafísicos. 2ª ed.Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1985.

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani). Lições de Umbanda (e Quimbanda) na Palavra de um “Preto Velho”. 6ª ed. rev. e ampl.  Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1995.

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani). Macumbas e Candomblés na Umbanda. 2ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1977.

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani). Mistérios e Práticas da Lei de Umbanda. 3ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1981.

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani).  Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda. 3ª ed. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1994.

MATTA E SILVA. W.W. (Yapacani). Umbanda e o Poder da Mediunidade. 3ª ed. revista e aumentada.  Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1987.

NAVARRO, Eduardo de Almeida. Método Moderno de Tupi Antigo: a língua do Brasil dos primeiros séculos. 3ª ed. revisada e aperfeiçoada.  São Paulo: Global, 2005.

Nina Rodrigues, Raimundo. Os Africanos no Brasil. São Paulo: Madras, 2008.

OLIVEIRA, Jose Henrique Motta de. Das macumbas a Umbanda: uma análise histórica da construção de uma religião brasileira. São Paulo: Editora do Conhecimento, 2008.

PEIXOTO, Norberto. Umbanda Pé no Chão. São Paulo: Editora Conhecimento, 2008.

PRANDI, Reginaldo. Os Candomblés de São Paulo: a velha magia na metrópole nova. São Paulo: Hucitec: Editora da Universidade de São Paulo, 1991.

RAMOS, Arthur. O Negro Brasileiro - 1º v. - Etnologia Religiosa. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1940.

TRINDADE, Diamantino Fernandes. Umbanda Brasileira: um século de história. São Paulo: Ícone, 2009.