TERREIRO DE ARUANDA

Terreiro de Aruanda
W. W. da Matta e Silva e a Raiz de Guiné
Diamantino Fernandes Trindade (Org.)

 

Dedicatória

Ao Grão-Mestre de Iniciação W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani) que, juntamente com Pai Guiné de Angola e outros grandes trabalhadores do Astral, revelaram os conceitos e práticas esotéricas desta Umbanda de Todos Nós.

CAPA TERREIRO DE ARUANDA

NOSSA CAPA

A arte da nossa capa mostra uma guia, revelada por Pai Guiné à Matta e Silva.

Foi publicada, pela primeira vez, em 1956 na obra Umbanda de Todos Nós. Essa guia, a tradicional cruz triangulada, é utilizada pelos adeptos da Raiz de Guiné.

Ela sintetiza: os Mistérios da Cruz; o Signo Cosmogônico da Hierarquia Crística; a Alta Magia da Umbanda e a identificação do genuíno Adepto Umbandista.

Os sinais gravados foram decodificados, à luz da Lei de Pemba, por três Mestres da Raiz de Guiné. Vamos transcrever a decodificação feita por Mestre Yatyçara.

“Um Preto Velho de Angola pede, na Lei de São Miguel e em nome de Deus Pai, Deus Espírito Santo e Deus Filho, o Cristo Jesus, e pela luz e os poderes da Sua Santa Cruz, que Ele derrame a sua luz sobre todos os filhos de Umbanda (Filhos da Terra. Por isso o triângulo voltado para baixo).”

É impossível ao historiador a imparcialidade. Desde a coleta de documentos até a redação do trabalho são feitas escolhas, que não são causais. Qualquer tentativa de escrever sobre um fato ou período histórico envolve seleção, julgamento e pressupostos metodológicos. A História não pode ser nunca puramente descritiva, pois sempre haverá elementos de avaliação em qualquer relato. Sendo assim, o máximo que um historiador pode fazer no seu trabalho é alcançar uma face da verdade, que não é absoluta e sim variável de acordo com as condições que se apresentam no momento da escrita.

A luz não foi feita para ficar escondida embaixo do congá!

Senhor! Semear eu semeei. As árvores deram frutos. Mas receio que poucos queiram prová-los!

W. W. da Matta e Silva.

 

“NA LADERÂ DE PILÁ”

Este é um “pontinho” especial cantado por alguns Pretos Velhos em determinadas ocasiões, utilizando uma linguagem própria:

“Na laderâ de pilá
É tombadô, é tombadô
Bota fogo ni sapê
Pra nacê ôta fulô”.

Matta e Silva explica o significado oculto deste ponto cantado:[1]

“Na ladêra de pilá” – No caminho da vida espiritual mediúnica.

“É tombadô” – Caiu, derrapou, se extraviou, errou etc.

“Bota fogo ni sapê” – Destrua as mazelas morais, psíquicas, suas vaidades, seus erros.

“Pra nascê ôta fulô” – Regenerar para criar outras forças novas espirituais, morais etc.

Citamos, ainda, alguns trechos do relato de Matta e Silva:

Irmão médium. Traição, ingratidão, deslealdade, difamação, não tem perdão – assim como você pensa! Cuidado! “É na força de pemba. Sim sinhô”, que você vai ver quanto está lhe custando ou vai custar tudo isso. Quem mandou trair os sagrados compromissos que assumiu?

E seus Guias e Protetores? – Na certa que você pode pensar que lhe estão dando cobertura. Qual!

Guias e Protetores de fato não acobertam erros, vaidade, quizila, ignorância e deslealdade.

[1] Segredos da magia de Umbanda e Quimbanda.

 

Quando se diz que o médium faltoso está “pembado” é porque ninguém pode dar jeito na situação dele (ninguém quer botar a mão na cumbuca); nenhum Guia ou Protetor de outra “gira” pode interferir, socorrê-lo. Pois é “força de pemba” mesmo que ele está enfrentando, é a lei interna moral-espiritual que infringiu e, portanto, está sendo disciplinado.

Essa disciplina, às vezes, é sutil, porém segura. O médium errado leva anos, até, debaixo dela, enfrentando certos impactos, certos tombos duros, de um lado e de outro, sem se aperceber de que está “apanhando”, mesmo porque “força de pemba é lei. Sim sinhô”.

 

É força de pemba. É Lei
Se errou, se extraviou
Ninguém pode dá caminho
Ninguém pode dá malei.[2]
Só quem pode dá malei
É Preto Véio de seu congá
Assim mesmo é preciso
Que se endireite e volte cá.

[2] Perdão (Nota de Diamantino F. Trindade).

 

PREFÁCIO
Lareserá

Agô, agô, tá na hora de Guiné...

Todo aquele que tenha pisado no solo sagrado de um terreiro de Umbanda da Raiz de Guiné, também conhecida como Umbanda Esotérica, sente um arrepio atravessar-lhe o corpo tão só ao ouvir a primeira estrofe desse ponto cantado, que se traduz em uma das mais belas preces do hinário umbandista, permeada por pérolas mântricas da magia sublime confiada àqueles que têm o inominável privilégio de perpetuar o legado do Velho Matta.

É com a letra e a melodia desse cântico tão querido ressoando em meu coração que, ao redigir este prefácio a convite do meu Pai Espiritual, queridíssimo amigo e irmão de alma, Diamantino F. Trindade, Mestre Hanamatan Ramayane, ponho-me a recordar... Recordações de uma longa caminhada, norteada pelos ditames áureos da Sagrada Lei de Umbanda, mas que só após muitos volteios levou-me aos pés do Mestre Matta e Silva pelas mãos do meu próprio Mestre de Iniciação, Hanamatan Ramayane, e pelos ensinamentos valiosos de Mestre Yatyçara.

Valendo-me do paralelismo da tradição oriental, tão cara ao Velho Matta, é ele o “Param Guru”[3] de uma linhagem que hoje detém poucos, mas dedicados e incansáveis “Gurus” ou professores. O autor deste livro é um deles.

Há duas décadas na senda umbandista, meu primeiro mestre foi Ronaldo Linares, seguidor de Zélio de Moraes e baluarte da Umbanda, que tanto fez por essa religião que seriam necessárias páginas e mais páginas para descrever os sólidos
e indeléveis alicerces por ele lançados como exemplo de fidelidade aos ensinamentos do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Foram os tempos de formação na chamada Umbanda Tradicional, um esteio que me foi necessário e do qual hauri ensinamentos imprescindíveis. Nessa época, eu ainda não conseguia compreender por completo as palavras do Velho Matta, gravadas nos seus nove livros ora difíceis, ora polêmicos.

Foi apenas muitos anos após a minha formação sacerdotal que, por intermédio do autor desta obra, o tesouro dos ensinamentos teóricos e, sobretudo, práticos, de Matta e Silva me foram apresentados. Que surpresa! Por detrás das polêmicas necessárias à época em que foram escritos seus livros seminais, levantado o véu das injunções culturais de uma obra literária principiada na década de 1950, abriu-se aos meus olhos o universo vibrante de uma tradição espiritual de máxima grandeza desvelada por Pai Guiné e seu aparelho afinadíssimo, Woodrow Wilson da Matta e Silva: simples como a Umbanda foi e sempre deverá ser, calcada na oração e ancorada na poderosíssima magia da Lei de Pemba, os misteriosos signos riscados a giz que produzem verdadeiros milagres nas mãos daqueles que verdadeiramente os conhecem.

Registro, assim, o reconhecimento e a gratidão de quem, um dia, não esteve preparado para compreender os ensinamentos do Velho Mestre: se os clarins de Aruanda soaram em 1908 com o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas, por meio do seu médium missionário Zélio Fernandino de Moraes, as trombetas do Astral Superior fizeram-se ouvir novamente cinquenta anos depois, com a publicação de Umbanda de Todos Nós, inaugurando o trabalho de Pai Guiné de Angola, por seu veículo igualmente missionário Matta e Silva.

Teria sido essa obra um marco de uma nova Umbanda como pretenderam alguns? De forma alguma. As revelações espirituais são trazidas à humanidade em etapas, pois a mente humana, limitada por natureza, demanda tempo para digeri-las e assimilá-las. Tal qual costumava explicar Matta e Silva, a Umbanda Esotérica é tão só uma das faces da mesma moeda chamada Umbanda. Nem melhor, nem pior. Apenas um aspecto da Sagrada Lei de Umbanda que, em conformidade com a regra da revelação progressiva, chegou-nos meio século depois da anunciação da própria Umbanda. E ainda não foi suficientemente digerida, pelo que seria prematura e mesmo desnecessária qualquer “nova revelação”. Afinal, no que diz respeito ao trabalho teórico e prático do Velho Matta, quem lhe deu esse direito foi a Lei de São Miguel...

Lareserá
Discípulo do Mestre Hanamatan Ramayane
Filho espiritual do Babalaô Ronaldo Antonio Linares

[3] Supremo Guru. O Param Guru é autorrealizado e conhece o caminho para Deus (Nota de Lareserá).

 

Prezados leitores e leitoras!

É com muita honra e alegria que faço chegar às vossas mãos outra obra de resgate sobre a memória da Umbanda.

Este livro, prefaciado pelo nosso discípulo Lareserá, aborda a vida e obra do Grão-Mestre da Raiz de Guiné, W. W. da Matta e Silva (Mestre Yapacani).

Diamantino Fernandes Trindade

DEDICATORIA